Da infância ela guardou quase todas as lembranças possíveis. Algumas desde os seus primeiros anos de vida, como o questionamento da vizinha que queria saber de quem ela mais gostava: do papai ou da mamãe? Ela usava um vestido de tafetá azul, tinha nos cabelos um laço de fita branca assim como os sapatos e as meias. Estava sentada na beirada da mesa e suas pernas balançavam no ar. Um grande espelho à sua frente refletia a sua imagem e a da vizinha, Dona Bel.
Seu pai e sua mãe se aprontavam para sair. Ela se lembra de como evitou olhar para o rosto da mãe. Não queria responder: sabia que gostava somente do seu pai. Dona bel percebeu sua indecisão e veio em seu socorro:
—Gosta dos dois iguais, não é, Lua? E completou:
—Os dois estão no seu coração.
Ela sabia que não era bem assim. Sabia que sua mãe também sabia a verdade sobre os seus sentimentos. Mas ainda era tão pequena... Tinha menos de dois anos de idade!
O tempo passando, ela crescendo sem direito a nada. Carinho só o pai tinha pra lhe dar e mesmo assim quando estava sóbrio e não estava trabalhando. Sem nenhuma regalia e quase sem brinquedos ouvia falar em Papai Noel. O pai todos os finais de anos recebia uma prenda no serviço que lhe era dado em forma de presente para a filha e que era um corte de tecido (chita) com o qual sua mãe lhe fazia um vestidinho. Aquele ano de 1952 seria diferente! Ela estava com quatro anos e sua mãe (que pretendia abandoná-la aos cuidados do pai), resolveu lhe recompensar levou-a para dar um passeio no centro da cidade. Pela primeira vez a menina viu as lojas enfeitadas para o natal e os Papais Noéis que vagavam pela cidade com seus sacos pendurados às costas onde se presumia que havia muitos presentes. A menina estava extasiada. A mãe deixou que ela se aproximasse de um desses homens e lhe pedisse algum brinquedo de presente. Para a menina isso era totalmente incompreensível: pedir o que, se não tinha sonhos ou desejos? Mas se espelhou numa menina que falou com o Papai Noel antes dela e pediu uma boneca com cabelo. O homem sorriu e ela se afastou dando a vez à outra criança. Como a mãe nesse dia parecia mais afável criou coragem e perguntou:
—Ele vai trazer mesmo o meu presente?
Ainda estava confusa e não sabia se tinha feito o pedido certo. A mãe respondeu que às vezes ele não conseguia lembrar de todos os endereços das crianças e o presente não chegava.
Continuaram a andar e entrar em outras lojas. A menina era toda felicidade. De repente elas param (aliás, a mãe fez com que ela parasse) em frente a uma vitrine onde havia uma pequena roda-gigante. Era uma réplica quase perfeita e ela achou interessante. A mãe insistia em aumentar a beleza e a importância do brinquedo e a menina pensou: "Será que ela quer comprar o brinquedo para mim?"
Depois de algum tempo de contemplação, arriscou:
—Compra pra mim, mãe?
A mãe a olhou sem responder e se afastaram dali.
A menina entendeu. A mãe com certeza não tinha o dinheiro necessário para comprar o brinquedo.
Em casa, tudo foi esquecido ou, quase tudo. À noite antes de dormir, a menina pensava no pedido que havia feito ao Papai Noel, na roda-gigante e em tudo o que havia visto naquele dia mágico.
Faltavam apenas dois dias para o Natal e a euforia das crianças era grande. Os adultos passavam e perguntavam:
—Já fez seu pedido à Papai Noel?
A menina dizia que sim e voltava a brincar. Na noite de natal, a mãe mandou que ela colocasse os sapatos perto da janela. A menina obedeceu sem muita convicção. Sua casa era tão pobrezinha e escondida... Será que Papai Noel acertaria o endereço?
No dia seguinte acordou com o chamado da mãe:
—Lua! Venha ver o que o Papai Noel deixou para você!
A menina correu até a janela da sala onde tinha colocado os seus sapatos e viu em cima deles havia um embrulho. Mas reparou que o embrulho não se parecia em nada com uma boneca e ficou parada. A mãe insistiu:
—Não vai abrir para ver o que é?
A menina então abriu o embrulho sem muita emoção e seus olhos se depararam não com a boneca de cabelo que ela havia pedido ao Papai Noel, mas com uma roda-gigante igualzinha a que ela e sua mãe tinham visto na loja.
No seu rosto nenhum sinal de emoção.
A mãe tentava desajeitadamente fazer com que a menina desse sinais de contentamento, e vendo que isso não acontecia, procurava alegrá-la dizendo:
—Viu, Lua? Papai Noel deve ter ouvido quando você me pediu para comprar a roda-gigante e trouxe ela para você!
Depois de retirar o brinquedo do embrulho a menina pegou o mesmo se afastou. Foi para o lado de fora da casa. Queria ficar sozinha com o seu brinquedo de Natal. Um brinquedo que ela não havia desejado, mas que estava ali em suas mãos e que serviria para o seu entretenimento.
Seus olhos se encheram de lágrimas. Do quintal olhou para o telhado da casa e para a janela (ainda fechada) sem entender direito como o Papai Noel conseguira entrar e não se lembrar do pedido que ela lhe havia feito. Ela estava quase com cinco anos, falava pouco, mas sua capacidade de compreensão era grande. Sabia que a mãe estava mentindo.
Sabia que Papai Noel não sabia o seu endereço e nem ligava para os pedidos que a s crianças pobres lhe faziam.
Sabia que Papai Noel não sabia o seu endereço e nem ligava para os pedidos que a s crianças pobres lhe faziam.
O tempo passou e esse foi o único brinquedo que ganhou (?) de Natal.
Apesar disso, a menina cresceu acreditando em Papai Noel e sonhando com o dia em que ele aprendesse o endereço de todas as crianças da face da Terra!
Desejo a todos os amigos um Natal cheio de Saúde, Paz e Harmonia Familiar, e que 2011 chegue trazendo Chuvas de Esperança e Rios de Concretizações para todos. Beijos!
Desejo a todos os amigos um Natal cheio de Saúde, Paz e Harmonia Familiar, e que 2011 chegue trazendo Chuvas de Esperança e Rios de Concretizações para todos. Beijos!
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