domingo, 20 de setembro de 2009

Minha primeira tentativa de trabalho.

1961

Tenho uma história de vida repleta de sofrimento e de dificuldades e nunca consegui superar minhas dores e meus temores. Até tentei acompanhar o mundo em sua correria, porém, por mais que me esforçasse acabava sempre ficando para trás. Foi assim na escola e no trabalho. Aos treze anos e ainda sem ter concluído o antigo curso primário, resolvi trabalhar. Ansiava por me tornar independente financeiramente e pensava também em ajudar minha mãe. Todos os dia olhava os classificados dos jornais e quando tinha algum dinheiro sobrando ia atrás de algum anúncio. Com a ajuda de uma amiga consegui uma vaga de Empregada Doméstica no bairro do Méier. A casa era grande e o quarto de empregada ficava nos fundos totalmente independente e separado da casa. Eu teria que dormir sozinha. Durante todo o dia eu me esforcei para acreditar que não sentiria medo de dormir sozinha.A noite chegou e às dez horas eu fui "convidada" a me retirar. Passei quase toda a noite em claro, rolando de um lado para o outro e o dia me encontrou trêmula e sonolenta. Por sorte minha mãe apareceu para me levar de volta para casa, já que eu havia saído sem o consentimento dela. A patroa não teve como argumentar e eu caindo de sono, acompanhei minha mãe. Meses depois encontrei um anúncio de “Demonstradora”. Não pedia experiência e fiquei esperançosa. O escritório ficava em Madureira e depois da entrevista me deram uma bolsa cheia de sabonetes revestidos com uma embalagem promocional onde havia o nome de uma instituição para crianças carentes. Eu tinha que sair pelas ruas batendo de porta em porta e vender o produto. No final do dia devolveria o que não houvesse vendido e receberia o pagamento pelos que houvesse vendido. Saí pelas ruas do bairro e fui me distanciando. Andei por Osvaldo Cruz e Bento Ribeiro. Estava com pouco dinheiro e queria poupar o mesmo para a passagem dos dias seguintes. Por volta das duas horas da tarde comecei a me sentir mal e precisei parar. Sentia tonteiras e estava com fome. Entrei num barzinho, pedi um pouco de água ao homem do balcão e me sentei para descansar. O sol estava forte e o calor era grande. Com um pouco de má vontade ele me deu a água. Eu bebi e aos pouco me reanimei. Mas ainda sentia fome e resolvi fazer um lanche. Pedi um pão com mortadela e um refrigerante. Ofereci a ele um dos sabonetes, mas ele não quis comprar. Disse que não acreditava que o dinheiro fosse mesmo para a tal instituição e que aquilo era fraude. Aliás, quase todas as pessoas a quem eu oferecera o produto disseram a mesma coisa. Resolvi voltar e fiz um caminho diferente. Quem sabe agora na volta eu não dava mais sorte? Quando cheguei o escritório estava quase fechando. A moça conferiu o número dos sabonetes, me olhou com pouco caso e me disse:

—Se quiser volte amanhã. Vamos ver se você consegue sair do zero!

Cheguei em casa super cansada. Já estava anoitecendo. Contei a minha mãe sobre o emprego e ela como sempre, fez pouco caso:

—Você vai agüentar andar de porta em porta oito horas por dia? Só eu vendo pra crer! Tomara que isso não resulte em mais problemas pra mim! Ela se referia a minha saúde que sempre estava a me pregar peças e era ela quem, querendo ou não tinha que arcar com os meu remédios. Tomei um banho rápido e me deitei. Meus pés e minhas pernas doíam bastante e procurei descansar. As dores mais fortes eram no calcanhar e durante a noite precisei pedir a minha mãe para esfregar Alginex nos meus pés. Não preciso dizer que no dia seguinte não voltei ao trabalho. Me senti tão envergonhada com a minha fragilidade que nem fui buscar minha Carteira Profissional. Pedi a uma menina minha amiga para pegar, mas fiquei triste em descobrir que trabalhar não era tão fácil como eu havia imaginado.