Tinha oito anos e com meus pais separados, estava passando uns tempos na casa da minha tia. Com medo de represálias ficava me esgueirando pela casa tentando me tornar invisível. Era assim que me protegia da broncas e dos castigos por coisas que eu não tinha feito. No quarto da frente (quarto do meu tio), havia uma coleção da revista Seleções do Readgist e que criança nenhuma podia mexer. Aliás, o simples fato de passar em frente ao quarto e olhar para dentro do mesmo, valia uma repreensão. Passava por ali de cabeça baixa, mas com o olhar enviesado namorando as pilhas de revistas. Esperava por um momento de distração do meu tio para poder pegar uma delas e ler. Mas eu sabia que se tivesse a sorte de pegar alguma, teria que ler escondido e essa era a tarefa mais difícil, já que na casa não havia lugares onde eu pudesse me esconder de verdade. A sala era espaçosa, mas era caminho para a cozinha e para o quintal. Nos quartos, criança não entrava durante o dia: quarto era lugar de dormir e ponto! Sendo assim, só me restava o banheiro. Lá era o único lugar da casa onde nós tínhamos privacidade.
Então comecei a planejar: primeiro entrar no quarto e seqüestrar uma revista (de preferência uma que estivesse mais em baixo da pilha para que ele não desse falta). Segundo: precisava entrar e sair rápido do quarto e esconder a revista em baixo da blusa. Terceira: ter aonde esconder a revista para que minha tia não percebesse e por último encontrar um local para ler sem ser vista. Para isso escolhi o banheiro, mas e aí? Como fazer para levar a revista até o banheiro? Me lembrei que minha mãe costumava esconder dinheiro nas ripas de madeira que seguravam as telhas. Entre uma telha e outra sempre havia uma quantia de que ela se servia quando era necessário. Observando o telhado do banheiro vi que havia uma grande diferença de espaço entre uma nota de dinheiro e uma revista. Mas uma coisa me chamou a atenção: o armário tosco e improvisado (onde se colocava os apetrechos de banho) poderia ser o meu esconderijo, pois ficava pendurado por um prego e com uma leve afastadinha eu tinha como colocar a revista entre ele e a parede. Resolvido o problema na teoria, parti para por em prática o meu plano. Posso dizer que o universo conspirou a meu favor e tudo saiu do jeito que eu havia imaginado. Passei a ir ao banheiro com mais freqüência e ás vezes me perdia na leitura e esquecia de sair, causando alguns transtornos para mim e para o s outros. Minha tia passou a me observar e a controlar o tempo em que eu ficava no banheiro, mas depois eu me adaptei e passei a ler por etapas e isso não foi mais problema. Adorava quando ela saía, pois eu podia ficar mais tempo na minha biblioteca particular. Durante o tempo em que morei com a minha tia pude aprimorar a minha cultura através daquela revista. Além dos artigos serem interessantes e pequenos (na maioria depoimentos) havia o resumo de um livro que estava para ser lançado. Isso sem falar nas “Piadas de Casernas” e no teste de vocabulário que muito me ajudou nas tarefas escolares. Ali pude dar asas a minha paixão por ler. Não creio que nos dias atuais uma criança goste de ler essa revista. Tenho alguns exemplares em minha casa e por mais que eu tente, ainda não encontrei entre os meus netos nenhum que desses a elas a devida atenção. Compartilho esse prazer com apenas uma das filhas. A leitura parece estar em extinção. A nova geração precisa ser estimulada. Não querem “perder tempo” com leitura e a Internet está aí para desconstruir a saga do “gostar de ler”. Novos tempos, novas possibilidades de aprendizado, novos leitores e uma nova releitura do que fomos e de quem somos. Voltar no tempo? Impossível! Aprender a ler? Imprescindível! Gostar de ler? Vai da vontade da cada um. Beijos e (crianças ???) procurem fazer bom uso da Internet.
Então comecei a planejar: primeiro entrar no quarto e seqüestrar uma revista (de preferência uma que estivesse mais em baixo da pilha para que ele não desse falta). Segundo: precisava entrar e sair rápido do quarto e esconder a revista em baixo da blusa. Terceira: ter aonde esconder a revista para que minha tia não percebesse e por último encontrar um local para ler sem ser vista. Para isso escolhi o banheiro, mas e aí? Como fazer para levar a revista até o banheiro? Me lembrei que minha mãe costumava esconder dinheiro nas ripas de madeira que seguravam as telhas. Entre uma telha e outra sempre havia uma quantia de que ela se servia quando era necessário. Observando o telhado do banheiro vi que havia uma grande diferença de espaço entre uma nota de dinheiro e uma revista. Mas uma coisa me chamou a atenção: o armário tosco e improvisado (onde se colocava os apetrechos de banho) poderia ser o meu esconderijo, pois ficava pendurado por um prego e com uma leve afastadinha eu tinha como colocar a revista entre ele e a parede. Resolvido o problema na teoria, parti para por em prática o meu plano. Posso dizer que o universo conspirou a meu favor e tudo saiu do jeito que eu havia imaginado. Passei a ir ao banheiro com mais freqüência e ás vezes me perdia na leitura e esquecia de sair, causando alguns transtornos para mim e para o s outros. Minha tia passou a me observar e a controlar o tempo em que eu ficava no banheiro, mas depois eu me adaptei e passei a ler por etapas e isso não foi mais problema. Adorava quando ela saía, pois eu podia ficar mais tempo na minha biblioteca particular. Durante o tempo em que morei com a minha tia pude aprimorar a minha cultura através daquela revista. Além dos artigos serem interessantes e pequenos (na maioria depoimentos) havia o resumo de um livro que estava para ser lançado. Isso sem falar nas “Piadas de Casernas” e no teste de vocabulário que muito me ajudou nas tarefas escolares. Ali pude dar asas a minha paixão por ler. Não creio que nos dias atuais uma criança goste de ler essa revista. Tenho alguns exemplares em minha casa e por mais que eu tente, ainda não encontrei entre os meus netos nenhum que desses a elas a devida atenção. Compartilho esse prazer com apenas uma das filhas. A leitura parece estar em extinção. A nova geração precisa ser estimulada. Não querem “perder tempo” com leitura e a Internet está aí para desconstruir a saga do “gostar de ler”. Novos tempos, novas possibilidades de aprendizado, novos leitores e uma nova releitura do que fomos e de quem somos. Voltar no tempo? Impossível! Aprender a ler? Imprescindível! Gostar de ler? Vai da vontade da cada um. Beijos e (crianças ???) procurem fazer bom uso da Internet.