domingo, 26 de dezembro de 2010


Ano Novo!



Dentro de alguns dias, um Ano Novo vai chegar a esta estação.


Se não puder ser o maquinista, seja o seu mais divertido passageiro.


Procure um lugar próximo à janela desfrute cada uma das paisagens que o tempo lhe oferecer, com o prazer de quem realiza a primeira viagem.


Não se assuste com os abismos, nem com as curvas que não lhe deixam ver os caminhos que estão por vir.

Procure curtir a viagem da vida, observando cada arbusto, cada riacho, beirais de estrada e tons mutantes de paisagem.


Desdobre o mapa e planeje roteiros.


Preste atenção em cada ponto de parada, e fique atento ao apito da partida.


E quando decidir descer na estação onde a esperança lhe acenou não hesite.


Desembarque nela os seus sonhos…

Desejo que a sua viagem pelos dias desse novo ano seja de PRIMEIRA CLASSE !!!!!


Beijos e um Feliz 2011 para todos!

sábado, 18 de dezembro de 2010

DEZEMBRO 1952_O PRIMEIRO PRESENTE DE NATAL

Da infância ela guardou quase todas as lembranças possíveis. Algumas desde os seus primeiros anos de vida, como o questionamento da vizinha que queria saber de quem ela mais gostava: do papai ou da mamãe? Ela usava um vestido de tafetá azul, tinha nos cabelos um laço de fita branca assim como os sapatos e as meias. Estava sentada na beirada da mesa e suas pernas balançavam no ar. Um grande espelho à sua frente refletia a sua imagem e a da vizinha, Dona Bel.

Seu pai e sua mãe se aprontavam para sair. Ela se lembra de como evitou olhar para o rosto da mãe. Não queria responder: sabia que gostava somente do seu pai. Dona bel percebeu sua indecisão e veio em seu socorro:

—Gosta dos dois iguais, não é, Lua? E completou:

—Os dois estão no seu coração.

Ela sabia que não era bem assim. Sabia que sua mãe também sabia a verdade sobre os seus sentimentos. Mas ainda era tão pequena... Tinha menos de dois anos de idade!

O tempo passando, ela crescendo sem direito a nada. Carinho só o pai tinha pra lhe dar e mesmo assim quando estava sóbrio e não estava trabalhando. Sem nenhuma regalia e quase sem brinquedos ouvia falar em Papai Noel. O pai todos os finais de anos recebia uma prenda no serviço que lhe era dado em forma de presente para a filha e que era um corte de tecido (chita) com o qual sua mãe lhe fazia um vestidinho. Aquele ano de 1952 seria diferente! Ela estava com quatro anos e sua mãe (que pretendia abandoná-la aos cuidados do pai), resolveu lhe recompensar levou-a para dar um passeio no centro da cidade. Pela primeira vez a menina viu as lojas enfeitadas para o natal e os Papais Noéis que vagavam pela cidade com seus sacos pendurados às costas onde se presumia que havia muitos presentes. A menina estava extasiada. A mãe deixou que ela se aproximasse de um desses homens e lhe pedisse algum brinquedo de presente. Para a menina isso era totalmente incompreensível: pedir o que, se não tinha sonhos ou desejos? Mas se espelhou numa menina que falou com o Papai Noel antes dela e pediu uma boneca com cabelo. O homem sorriu e ela se afastou dando a vez à outra criança. Como a mãe nesse dia parecia mais afável criou coragem e perguntou:

—Ele vai trazer mesmo o meu presente?

Ainda estava confusa e não sabia se tinha feito o pedido certo. A mãe respondeu que às vezes ele não conseguia lembrar de todos os endereços das crianças e o presente não chegava.

Continuaram a andar e entrar em outras lojas. A menina era toda felicidade. De repente elas param (aliás, a mãe fez com que ela parasse) em frente a uma vitrine onde havia uma pequena roda-gigante. Era uma réplica quase perfeita e ela achou interessante. A mãe insistia em aumentar a beleza e a importância do brinquedo e a menina pensou: "Será que ela quer comprar o brinquedo para mim?"

Depois de algum tempo de contemplação, arriscou:

—Compra pra mim, mãe?

A mãe a olhou sem responder e se afastaram dali.

A menina entendeu. A mãe com certeza não tinha o dinheiro necessário para comprar o brinquedo.

Em casa, tudo foi esquecido ou, quase tudo. À noite antes de dormir, a menina pensava no pedido que havia feito ao Papai Noel, na roda-gigante e em tudo o que havia visto naquele dia mágico.

Faltavam apenas dois dias para o Natal e a euforia das crianças era grande. Os adultos passavam e perguntavam:

—Já fez seu pedido à Papai Noel?

A menina dizia que sim e voltava a brincar. Na noite de natal, a mãe mandou que ela colocasse os sapatos perto da janela. A menina obedeceu sem muita convicção. Sua casa era tão pobrezinha e escondida... Será que Papai Noel acertaria o endereço?

No dia seguinte acordou com o chamado da mãe:

—Lua! Venha ver o que o Papai Noel deixou para você!

A menina correu até a janela da sala onde tinha colocado os seus sapatos e viu em cima deles havia um embrulho. Mas reparou que o embrulho não se parecia em nada com uma boneca e ficou parada. A mãe insistiu:

—Não vai abrir para ver o que é?

A menina então abriu o embrulho sem muita emoção e seus olhos se depararam não com a boneca de cabelo que ela havia pedido ao Papai Noel, mas com uma roda-gigante igualzinha a que ela e sua mãe tinham visto na loja.

No seu rosto nenhum sinal de emoção.

A mãe tentava desajeitadamente fazer com que a menina desse sinais de contentamento, e vendo que isso não acontecia, procurava alegrá-la dizendo:

—Viu, Lua? Papai Noel deve ter ouvido quando você me pediu para comprar a roda-gigante e trouxe ela para você!

Depois de retirar o brinquedo do embrulho a menina pegou o mesmo se afastou. Foi para o lado de fora da casa. Queria ficar sozinha com o seu brinquedo de Natal. Um brinquedo que ela não havia desejado, mas que estava ali em suas mãos e que serviria para o seu entretenimento.

Seus olhos se encheram de lágrimas. Do quintal olhou para o telhado da casa e para a janela (ainda fechada) sem entender direito como o Papai Noel conseguira entrar e não se lembrar do pedido que ela lhe havia feito. Ela estava quase com cinco anos, falava pouco, mas sua capacidade de compreensão era grande. Sabia que a mãe estava mentindo.
Sabia que Papai Noel não sabia o seu endereço e nem ligava para os pedidos que a s crianças pobres lhe faziam.
O tempo passou e esse foi o único brinquedo que ganhou (?) de Natal.

Apesar disso, a menina cresceu acreditando em Papai Noel e sonhando com o dia em que ele aprendesse o endereço de todas as crianças da face da Terra!

sábado, 4 de dezembro de 2010

Dever de Gratidão


Belo Horizonte, ano 1950. Em uma casa muito pobre, fica órfã de mãe uma menina de dez anos. Do pai não se sabia nada. Dele, sua mãe não comentava, só dizia que ele não queria saber delas. E agora ficaram só ela e sua avó. Depois do funeral, começou a maratona à casa de parentes para saber quem poderia ficar com a menina.

Uma tia disse: “Não fico com ela, porque está ficando mocinha, e sei que terei dor de cabeça, pois tenho um filho de quinze anos. Leve-a ao meu irmão. Ele ficará com ela, pois será de grande ajuda para a sua esposa no trato da casa”. Mas, chegando à casa desse tio, a resposta veio negativa, pois ele mal podia tratar de seus seis filhos e não queria mais uma boca para dar de comer. Depois de algumas tentativas com mais alguns parentes, alguém indicou um orfanato. Sua avó, uma mulher sem recursos, analfabeta, se viu desolada ao ter que enfrentar tal problema tão difícil. Ela também não saberia para onde ir depois que deixasse sua neta no orfanato. Dependia da resposta de uma carta, que já esperava há dois meses. Encontrou uma pessoa que se interessou pelo caso, e arrumou toda a papelada para a menina ser encaminhada ao orfanato. Lá chegando sentiu seu coração apertado e sentiu o gosto amargo de suas lágrimas em sua boca. A irmã que abrira a porta mandou que esperassem um pouco, pois logo a Madre Superiora viria atendê-las. Sentadas lado a lado, cada uma com seus pensamentos, quando a menina perguntou a sua avó:

—Vó, aqui tem crianças? Ela respondeu: “Sim tem”.

—Só crianças, Vó?

—Sim, só crianças.

—Mas está um silêncio tão grande! Não é hora de dormir, pois ainda não é noite. Não se ouve correria, gritos, risos ou choro, mas se sente no ar um que de infelicidade. Eu, Vó, não quero ficar aqui! Por favor, vamos embora! Eu, juro que te ajudarei a lavar roupa para as madames, trabalharemos juntas e você vai ver que crescerei logo e poderei ganhar um pouco mais, pra nos sustentar. Mas, por favor, não me deixe aqui!

Antes que sua avó pudesse responder, entra a Madre Superiora com os papéis na mão. Ela pergunta a avó da menina:

—Você é a responsável por ela?

—Sim! A avó respondeu.

A Madre lhe explicou tudo que ia ser feito.

—A gora assine aqui. Quero lhe dizer que, quando assinares estes documentos, e saíres por aquela porta, você não mais verá sua neta e nem terá notícias. Esqueça que tens esta neta!

A menina imóvel entorpecida pela dor escutava tudo calada. Como num passe de mágica ela ouviu a voz de sua avó, dizendo:

—Então vou levá-la de volta comigo, e seja o que Deus quiser! Mas não vou deixá-la que nem um cão danado...

Estava vencida a primeira luta de sua vida, porque viriam muitas e muitas lutas.

Sua avó tinha uma filha que morava em São Paulo. Seu marido era militar e devido a isso, viviam sempre longe de todos, mas sabedora da morte da irmã, ela convidou sua mãe para morar com ela. E aceitou que sua sobrinha viesse também, pois ela só tinha uma filha. As meninas seriam criadas juntas.

Passaram-se os anos. A menina cresceu e se tornou uma moça prendada e trabalhadeira. Se casou para construir sua própria família. Poderia dizer que ela foi feliz, mas a vida não foi um mar de rosas para ela. Se tornou uma mulher forte, altiva e perseverante. Ao nascer seu primeiro filho, sua felicidade foi completa, mas logo ele faleceu. Seu mundo desabou. Mas o tempo curou o seu coração da grande perda. Mais tarde teve outros filhos lindos e com saúde. Apesar da vida difícil, ela saiu ilesa. Ao completar os seus quarenta anos sua vida foi coroada pela vinda de uma menina que ela adotou e que foi criada com muito amor e carinho.

A vida transcorreu com seus altos e baixos, como na vida de qualquer mortal.

Os filhos cresceram, casaram-se e foram viver as suas vidas. Os netos começaram a chegar.

E hoje, quando estão todos reunidos, alegres, a conversar sobre o jogo que irá ser televisionado nesta tarde, ela olha com amor e carinho para os seus familiares: flamenguistas, fluminenses, vascaínos (e o melhor de todos) seu neto botafoguense e, vem-lhe à mente a menina que seria deixada para traz, e que no entanto, graças ao coração bondoso e cheio de amor de sua vovó que a levou consigo, juntas enfrentaram e venceram todas as lutas.

Apesar de sua avó ser analfabeta e pobre, com este gesto mostrou-lhe que a maior riqueza está em nosso coração e ela hoje é feliz com sua família. Sempre que pode, eleva os seus pensamentos à Deus agradecendo por tudo que tem.

E dentro do seu coração, lá dentro do seu íntimo, bem no fundo do seu ser, ela sabe que tem o dever de gratidão para com sua vovó.

Sabe com certeza que ela está com todos os anjos no céu para desfrutar da vida eterna com Deus.

Obs: Texto escrito por uma amiga a quem muito considero e que assina:
Edêmia Luzia

Réquiem a um José comum (Primeira Parte)


Santo Antônio de Pádua - RJ – 19??

José nasceu no tempo em que o Getulismo estava em alta e a mãe desejava dar esse nome ao filho. Assim que o menino nasceu entre as parteiras e vizinhas a notícia correu:

—O fio de Maria Amáia vai se chamá Getúio!

O pai estava na roça. Saíra cedinho bem antes que os raios do sol se fizessem presentes. Deixara a mulher dormindo. E bastou que se afastasse para que Maria Amália despertasse já sentindo as primeiras dores do parto. Com certa dificuldade se arrastou até a casa da Comadre mais próxima. Todos estavam de sobreaviso e José veio ao mundo sem muitos transtornos, naquele 17 de março, uma quinta-feira e como ele costumava dizer, “véspera do dia em que se comemora a morte de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Era uma quinta-feira Santa e disso Maria Amália nunca se esqueceu.

Tomé, (o pai) homem de poucas palavras, aguardava o nascimento do primeiro filho sem muito entusiasmo. Deixava que a mulher se encantasse e ás vezes se descabelasse com a novidade. Trabalhava com afinco sob um sol de março e estranhou quando o almoço demorou a chegar. Se distraía com a fumaça do cigarro de palha, que além de lhe dar um certo prazer, também servia para espantar a fome. De vez em quando, olhava esperançoso a curva do caminho. Mas nada do almoço chegar. E Tomé pensou:

—Será que aconteceu alguma coisa? E se o menino?... – sempre pensava na criança como sendo um menino. Não que se importasse com o fato de que nascesse uma menina. Para ele criança era tudo igual e davam os mesmos problemas, mas intuitivamente sabia que seria um menino. Aguardou que o sol esmaecesse. Antes de pegar o rumo de casa, acendeu mais um cigarro e enquanto fumava, deixou que os pensamentos fluíssem:

Sempre fora um moço tímido e calado. Desde os tempos de adolescência fora assim. Não conseguia fazer amigos e era com relutância que se achegava às moças da redondeza. Saía pouco e não gostava muito de conversar. Conheceu Maria Amália aos vinte e três anos e se apaixonou. Era a cabrocha mais bonita que Tomé já havia visto. E como era animada a danada! Corpo bonito, apesar de um tanto magra para os padrões da época, olhos brilhantes e um farto sorriso. Ainda agora ao lembrar, Tomé se emocionava. E os longos cabelos negros e brilhantes, amarrados em tranças, amarraram Tomé. As moiçolas negras da vizinhança, faziam de um tudo para que os cabelos crescessem, sem muito resultado. Mas Maria Amália jogava suas tranças soltas e exuberantes aos olhos encantados de Tomé. Pouco tempo depois estavam casados. Ela, com o sorriso à flor da pele e a dança incrustada no corpo. Ele, embevecido com a conquista fácil e esperando que ela se tornasse uma boa esposa. As brigas logo se iniciaram. Para Maria Amália bastava o som distante de uma sanfona, para esquecer as obrigações de dona de casa e sair em busca da diversão. Saía na sexta e só voltava para casa na segunda. Tomé se entristecia, e às vezes reclamava. Porém não era homem dado a violência e deixava que a mulher se divertisse. Os vizinhos comentavam a liberdade excessiva de Maria Amália. O tio de Tomé era o mais agoniado com a situação.

—Ô homem, vê se toma uma atitude! O home tem que domá a muié. Ocê tá envergonhando a famía!

A gravidez precoce acalmou um pouco em Maria Amália a sua sofreguidão por festas. No corpo magro os vestígios se faziam notar facilmente. E Maria Amália vaidosa como era, se entristecia com a forma arredondada que o ventre assumia. Por isso, ficava em casa. Entre o chorar de tristeza e a alegria de ser mãe. Tomé ficou satisfeito.

—Quem sabe, daqui prá diante ela sossega o facho em casa?

No fundo, porém Tomé sentia medo, ou quem sabe até um pressentimento de que as coisas não seriam exatamente assim.

Tomé chegou em casa quase ao anoitecer. Encontrou a vizinhança em festa.

—Seu fio nasceu, seu Tomé! Seu fio nasceu! O sinhô já é pai!

Entrou em casa em silêncio. Trazia no ombro a enxada com que trabalhara no roçado. Aproximou-se da cama e olhou para criança que a mãe amamentava. A casa era pequena. Ainda assim estavam presentes a parteira, um tio de Tomé e mais duas vizinhas que entusiasmados tentavam despertar em Tomé algum vestígio de contentamento.

—É Tomé. Ocê agora tem um homezinho prá criá, home! E óia que com esse nome esse menino vai longe! E o tio falava com orgulho:

—Donde já se viu um neguinho da famía dos Mello se chamá Getúio!

Tomé colocou a enxada no chão, retirou da cabeça o chapéu de palha, desfiado e empoeirado, e calmamente sentenciou:

—O meu fio vai se chamá José! Eu quero que o meu fio tenha nome de home. De trabaiadô.

Sem mais palavras, saiu em direção aos fundos do quintal onde ia tomar o seu banho rotineiro no riacho que cortava o terreno.

Todos ficaram desapontados. O tio, de rosto amarrado, saiu sem se despedir. Maria Amália chorou em silêncio.

Registro mesmo, José só veio a ter aos quatro anos. Mas o veredicto de Tomé prevaleceu. E o menino que no seu primeiro instante de vida, foi chamado de Getúlio e Getulinho, cresceu José. E de sobra recebeu também o nome de um outro tio de Tomé. Francisco. E assim ficou sendo José Francisco. José Francisco de Mello. Nome de homem, de trabalhador, como quis o seu pai.

Maria Amália, assim que se viu livre da barriga, começou a fazer planos:

—Quando o menino tiver uns três mês, eu vorto pros baies!

E todas as noites de sextas-feiras, enquanto embalava o pequenino José e ouvia o som da sanfona à distancia, ia arquitetando um jeito de voltar aos bailes. A vida ao lado de Tomé era calma, porém não era isso que Maria Amália queria. Gostava de ser paquerada, de se sentir admirada e desejada pelos homens. Sabia que era errado de sua parte, afinal era uma mulher casada. Mas a dança estava em seu sangue. Se pelo menos Tomé, lhe fizesse companhia! Mas, qual o que. Aquilo era parado demais. Nem parecia homem!

Aos pouco Maria Amália foi se reintegrando a sua vida de prazeres de finais de semanas. José ficava ora com o pai, ora com alguma vizinha prestativa. E os meses passando. Agora Tomé brigava e se aborrecia com as ausências da mulher. O menino não podia ficar quase três dias sem ser amamentado! Apesar de todos os contratempos e das brigas constantes, Maria Amália não se fazia de rogada. Os bailes para ela estavam em primeiro lugar.

Quando José completou dois anos, nova surpresa: Maria Amália estava novamente grávida. E mais uma vez ela se entristeceu e se amaldiçoou. Não queria ter outro filho para lhe atrapalhar a vida. Já bastava o estorvo do José. Prá que mais um?

Tomé de calado e tímido se tornou também um homem triste. E se já falava pouco, passou a falar menos ainda. Sofria com a rejeição da mulher pelo filho e se sentia mais triste ainda pelo outro que vinha a caminho.

E Luzia nasceu. Tomé se emocionou com a filha. Era linda e parecida com a mãe. Agora as preocupações de Tomé eram maiores. Será que Maria Amália deixaria a filha sozinha também? Afinal uma menina requer maiores cuidados.

Maria Amália logo demonstrou pela menina a mesma aversão que demonstrara por José. Para ela, os filhos eram como um castigo, pois tiravam a sua “liberdade”. A vida continuou a mesma. As crianças nos finais de semanas eram responsabilidade do pai e das vizinhas.

As reclamações e as queixas da mulher doíam fundo no coração de Tomé. E sem que ninguém suspeitasse a mágoa e a tristeza foram corroendo e enfraquecendo o seu coração até que um belo dia, ele saiu para o trabalho e lá mesmo ficou.

Alguns homens trouxeram o corpo e depositaram numa mesa na sala, com os pés prá fora, como era costume.

Mara Amália se desesperou.

—Como é que vou criá essas criança, minha Nossa Senhora?

José, nos seus cinco anos de idade não entendia direito o que estava acontecendo e se divertia vendo a casa cheia. Brincava no quintal com um galho que lhe servia de cavalo, quando alguém lhe chamou:

—Ei, menino! Venha tomar a benção ao seu pai!

José parou a brincadeira sem entender por que tomar a bênção ao pai defunto. Sabia que estava morto. Estava acostumado com a morte, que naquela época era comum entre os vizinhos. Ora uma criança, ora um adulto vítima da tuberculose. O certo é que ele sabia que o pai não responderia a sua benção, mas obedeceu. O enterro saiu e a vida deles mudou.

Se mudaram para Barra Mansa. Ali Maria Amália trabalhava como doméstica em pensões e à noite sempre trazia para casa alguma sobra de comida para saciar a fome dos filhos. A viuvez súbita e a responsabilidade maior fizeram com que se tornasse em pouco tempo uma mulher amarga. Descontava nos filhos a amargura que sentia. José era quem recebia a maior parte dos maus-tratos. Cozinhavam num fogão de lenha e José gostava de ficar olhando as fagulhas brilhantes que saíam dos galhos secos enquanto queimavam. Alguns, de vez em quando estouravam e pareciam pequenos fogos de artifícios. Numa manhã enquanto observava as chamas e luzes do fogo, José foi agredido pela mãe que além de espancá-lo, ainda o queimou com um graveto em brasa. A queimadura foi no olho esquerdo e com os gritos de dor do menino, os vizinhos acorreram e Maria Amália quase foi linchada. Felizmente a queimadura não atingiu a vista e sarou deixando apenas uma marca na pele. Luzia era tratada com mais carinho e até com um certo dengo pela mãe.

O fato do menino ser parecido com o pai fazia com que Maria Amália se revoltasse contra ele com muita facilidade. Vez por outra Maria Amália aparecia em casa com um namorado. Como residiam em um quartinho pequeno, costumava dar cachaça às crianças para poder desfrutar de uma maior liberdade com o seu homem. Certa noite trouxe para casa um velho que encontrara na estrada. Era um preto africano e andarilho de quem Maria Amália se compadeceu. Deixou que ele ficasse morando com ela e as crianças. Achava vantajosa sua companhia, pois os filhos não ficariam mais sozinhos enquanto estivesse no trabalho. O homem exigiu ser chamado de avô e passou a exercer vigilância severa sobre os dois irmãos. Maria Amália informou ao mesmo que se necessário, poderia castigar os dois. O que ela não sabia era que o homem era perverso e passou a aplicar castigos físicos tanto em José como em Luzia por coisas banais. Para castigá-los usava um arame retorcido que chamava de “bacalhau”. As surras eram constantes e eles ainda eram ameaçados:

—Se contá prá sua mãe, eu acabo cum ocês!

Algumas vizinhas penalizadas, contaram a Maria Amália o que estava acontecendo e ela mandou que o velho fosse embora. Maria Amália havia se tornado uma mulher que falava pouco, e quase sempre para reclamar da má sorte.

Aos nove anos José passou a fugir de casa e ir até a estação de trem em busca de uns trocados. Ajudava a carregar as malas dos viajantes que iam se instalar no hotel que ficava em frente. Com o dinheiro que recebia, comprava favos de mel (que nesta época era vendido em pequenos tabuleiros) e, se sobrasse algum, levava bolachas para a irmã.

Uma noite a mãe chegou em casa acompanhada de um homem. José logo o reconheceu: era o chefe da estação do trem. O homem era “preto feito pixe” e José não gostava de preto. Usava um casaco cinza e um chapéu de feltro. Dentro do bolso interno do casaco, trazia sempre uma pequena garrafa de uísque, como os atores dos filmes americanos. A mãe para despistar o filho dizia que aquele homem era seu compadre. José sabia que era mentira e ficava sempre de olho neles. Um dia o homem chegou, abriu o casaco e deu a garrafinha na mão de José. Era uma garrafinha de wisk e ele disse a José que podia beber tudo! Apesar do gosto forte, para quem já se acostumara com a cachaça, não foi difícil aceitar o wisk. Tudo isso causou uma estranha euforia no menino. Estava com menos de doze anos e já podia beber! José bebeu a metade do líquido da garrafa e dormiu como uma pedra deixando sua mãe e o homem à vontade. As visitas do homem continuaram e sempre ele levava uma garrafinha de bebida para José. Com o passar do tempo a mãe apareceu grávida. José ficou sabendo ao ouvir uns cochichos das vizinhas. Reparou então na barriga da mãe. É. Ele e Luzia ganhariam um irmãozinho ou irmãzinha. Com a gravidez a mãe trabalhava cada vez menos. José não gostava daquele homem com quem sua mãe mantinha um romance. Apesar de negro, José por ter a pele uma pouco mais clara, se julgava diferente e melhor. Era mulato e não admitia ser chamado de preto. Meses depois o novo membro da família chegou. Era um menino e tão preto quanto o pai. José olhava para aquela criança e se sentia traído pela mãe. Olhava para o irmão e pensava:

—Carvão! Fio de carvão”!

Maria Amália trabalhava pouco. Precisava cuidar do menino. Depois de algum tempo o homem deixou de aparecer e José sentiu falta da bebida. O sumiço do homem fez com que ela se revoltasse ainda mais com os filhos. As surras aumentaram de intensidade e José, já revoltado, resolveu fugir de casa. Era um menino forte e esperto, por isso não foi difícil conseguir emprego numa fazenda. Cuidava dos porcos e se alimentava do mesmo inhame que os animais comiam. Quando tinha algum tempo de folga ia até a fábrica de leite (onde entrava sem ser visto) e roubava pedaços do leite congelado. Não faltava as matinês (aos domingos) no cinema da cidade e com o primeiro pagamento recebido, ele comprou uma calça curta nova e uma camisa de “cowboy” como as do seu ídolo Lon Chaney. O tempo passava e José estava feliz. Ali na fazenda, apesar de não ter muito conforto, não apanhava e tinha liberdade para ir e vir. Já havia se passado seis meses desde a sua fuga e ele resolveu ir a uma quermesse (festa de largo) na Igrejinha da cidade. Um parque de diversões havia sido instalado e as crianças faziam festa. Ao passar correndo por entre alguns adultos, José ouviu alguém gritar:

—Óia ele ali, dona Maria! Óia lá o José!

Pronto. Estava ele de volta aos braços de sua mãe. Voltou para casa, entre abraços e beijos. Reviu a irmã Luzia que continuava calada, ou como José costumava dizer, “uma pasmaceira”. Estava com algum dinheiro no bolso e fez questão de doar a mãe. Pela primeira vez ouviu um elogio da parte dela:

—Viu, cumade como é bom, ter um fio home? Obrigada, meu fio. Deus lhe pague.

José crescia sem rumo e sem amor. O homem da estação voltou a freqüentar a casa, mas não aceitava a presença de José “que já tava virando home”. A mãe em outra opção, mandou que ele fosse morar por uns tempos em casa de um tio, em Volta Redonda. O tio Octaviano era um homem duro de coração e exigia muito de José. Ali em sua casa José aprendeu que era mesmo diferente dos primos. Todos os seus primos e primas podiam ir à escola, menos ele. Era um órfão e tinha que trabalhar. Nada de escolas ou outras regalias. José, apesar de estar já com doze anos ainda urinava na cama. Quando o tio Octaviano percebeu o que acontecia, passou a espancá-lo. Para “ensiná-lo” fazia questão de levantar durante a noite apenas para verificar se José estava molhado. Quando isso acontecia, tio Octaviano se enfurecia e arrastava José até a beira do rio que passava nos fundos da residência e o atirava dentro da água, por mais fria que a água estivesse. Depois o obrigava a dormir com a roupa encharcada.

—Tudo isso é pra ocê aprendê a sê homi!

José sofria, mas não ousava desobedecer ao tio. Aos pouco (graças aos “ensinamentos” do tio) deixou de fazer xixi na cama e como presente ganhou um par de sapatos. Estava com treze anos e era a primeira vez que colocava um sapato nos pés! José se sentia importante. O que ele ainda Ele ainda não sabia, era que os sapatos eram parte do uniforme que usaria para ir à escola. Agora José acordava cedo e ia direto para a escola. Estava contente e se sentia feliz. A única coisa ruim era a dor que sentia nos pés. Por nunca ter usado um calçado, os seus pés eram achatados e o sapato incomodava. Então, ele esperava se afastar um pouco de casa e retirava os mesmo. Amarrava os dois pelo cadarço, colocava no ombro e só os calçava quando se aproximava do colégio. As crianças que cruzavam por ele no caminho estranhavam e lhe perguntavam o motivo daquela mania. José então cheio de orgulho dizia que agia assim para não sujar e nem gastar os sapatos. Era inteligente e no primeiro ano de estudo conseguiu passar para a terceira série, no entanto a mãe precisava dele e ele precisou voltar para casa. As coisas não iam muito bem para sua mãe. O homem da estação havia sumido de novo.

José conseguiu um emprego como entregador de pão. Já de madrugada estava ele com um cesto quase do seu tamanho na cabeça, descendo uma das ladeiras da cidade em direção a um ponto distante onde o dono do armazém, nem sequer lhe agradecia. Apenas pegava o cesto lhe entregava o dinheiro do pagamento e virava as costas. José saía ainda com escuro e para chegar ao local da entrega passava por uma região onde o mato era muito espesso. Ali costumava haver assaltos e José sempre que passava por ali, ia rezando em pensamentos. Um dia, assim que acabou de descer o morro, percebeu que um homem lhe observava de dentro do mato. Fingiu não ter percebido e continuou o seu caminho, procurando andar mais rápido. O homem logo o alcançou e fez menção de lhe tirar o cesto de pão. O homem estava armado com uma faca e José se intimidou, afinal era apenas um menino de treze anos diante de um homem mal intencionado. Colocou o cesto no chão e tentou correr, mas o homem o alcançou e tentou esfaqueá-lo. Sem saber como, José conseguiu tomar a faca do homem e durante a luta que se seguiu ele esfaqueou o homem. O homem caiu parecendo não acreditar no que estava acontecendo. José viu o sangue que começava a escorrer do peito do homem, colocou novamente cesto na cabeça e correu o mais depressa que pode. O homem ainda gritou para lhe pedir ajuda, mas ele estava apavorado e só pensava em fugir dali. Chegando ao armazém, entregou o cesto e pela primeira vez deu graças a Deus pelo fato do homem não prestar atenção nele. Estava com a roupa suja de sangue e não saberia o que dizer. Saiu apressado e ao invés de voltar à padaria e entregar o dinheiro ao dono, como sempre fazia, resolveu que fugiria de novo. Só que dessa vez ele iria para longe. Iria para o Rio de Janeiro. No mesmo dia embarcou num trem com destino ao Rio de Janeiro e tratou de esquecer o incidente. Assim que chegou a Central do Brasil comprou uma camisa e um par de chinelos. Travou conhecimento com alguns meninos que vendiam doces por ali e conseguiu emprego com moradia numa casa no Méier . Era uma avenida de casas onde a senhoria fazia e vendia doces. José acordava cedo para entregar os tabuleiros de doces pela freguesia da redondeza. Sempre descalço e com pernas fortes descia e subia as ruas sem dificuldades. Ao término do serviço de entregas, sua função era lavar os tachos onde os doces eram feitos e ele se deliciava com as raspas dos mesmos. Passado alguns dias, conversou com a mulher que o havia empregado e falou sobre sua mãe, sua irmã e o irmão menor que viviam em Barra Mansa. Queria trazê-los para o Rio, mas não sabia como. A mulher então resolveu lhe ajudar: ela precisava de mais alguém para ajudá-la no serviço e a mãe dele poderia vir, trabalhar com ela e morar num dos quartos que ela alugava. José juntou dinheiro e foi em Barra Mansa para buscar a mãe, a irmã e o irmão menor. Elas vieram e ficaram morando e trabalhando na mesma casa onde José trabalhava.

Com o decorrer do tempo e depois de fazer novas amizades, José saiu dali. Foi trabalhar em obras e com o dinheiro que recebia, freqüentou uma academia de boxe onde aprendeu um pouco da luta. Gostava de fazer uso da força física que possuía e vez por outra estava se envolvendo em brigas. A bebida já fazia parte da sua vida. Bebia quantidades enormes de cachaça sem se embriagar. Isso causava certo espanto entre os colegas que não entendiam como isso era possível.

A mãe alugou um outro quarto onde foi morar com os filhos menores. José, empenhado no trabalho e nas orgias quase não a visitava. Soube que ela estava doente do pulmão e decidiu que assim que pudesse iria lhe fazer uma visita. Num domingo, acordou cedo, comprou leite, frutas e doces e se dirigiu ao local onde a mãe morava. Já fazia meses que não a via. Ela residia numa avenida de casas e assim que ele chegou ao portão foi informado por uma das moradoras que sua mãe havia morrido e já estava sepultada há dois dias. José se chocou tanto com a notícia que, ao invés de entrar para saber dos irmãos mais novos, jogou a bolsa de frutas no chão e saiu dali esmurrando todas as paredes que encontrava pela frente. A tristeza e o remorso lhe corroendo a alma e o desejo de ter agido diferente. Pobre José! Não teve a chance de ouvir dos lábios da mãe a última bênção... estava com dezoito anos e a vida precisava continuar.


domingo, 21 de novembro de 2010

Gostar (ou não gostar) de Ler?

Tinha oito anos e com meus pais separados, estava passando uns tempos na casa da minha tia. Com medo de represálias ficava me esgueirando pela casa tentando me tornar invisível. Era assim que me protegia da broncas e dos castigos por coisas que eu não tinha feito. No quarto da frente (quarto do meu tio), havia uma coleção da revista Seleções do Readgist e que criança nenhuma podia mexer. Aliás, o simples fato de passar em frente ao quarto e olhar para dentro do mesmo, valia uma repreensão. Passava por ali de cabeça baixa, mas com o olhar enviesado namorando as pilhas de revistas. Esperava por um momento de distração do meu tio para poder pegar uma delas e ler. Mas eu sabia que se tivesse a sorte de pegar alguma, teria que ler escondido e essa era a tarefa mais difícil, já que na casa não havia lugares onde eu pudesse me esconder de verdade. A sala era espaçosa, mas era caminho para a cozinha e para o quintal. Nos quartos, criança não entrava durante o dia: quarto era lugar de dormir e ponto! Sendo assim, só me restava o banheiro. Lá era o único lugar da casa onde nós tínhamos privacidade.


Então comecei a planejar: primeiro entrar no quarto e seqüestrar uma revista (de preferência uma que estivesse mais em baixo da pilha para que ele não desse falta). Segundo: precisava entrar e sair rápido do quarto e esconder a revista em baixo da blusa. Terceira: ter aonde esconder a revista para que minha tia não percebesse e por último encontrar um local para ler sem ser vista. Para isso escolhi o banheiro, mas e aí? Como fazer para levar a revista até o banheiro? Me lembrei que minha mãe costumava esconder dinheiro nas ripas de madeira que seguravam as telhas. Entre uma telha e outra sempre havia uma quantia de que ela se servia quando era necessário. Observando o telhado do banheiro vi que havia uma grande diferença de espaço entre uma nota de dinheiro e uma revista. Mas uma coisa me chamou a atenção: o armário tosco e improvisado (onde se colocava os apetrechos de banho) poderia ser o meu esconderijo, pois ficava pendurado por um prego e com uma leve afastadinha eu tinha como colocar a revista entre ele e a parede. Resolvido o problema na teoria, parti para por em prática o meu plano. Posso dizer que o universo conspirou a meu favor e tudo saiu do jeito que eu havia imaginado. Passei a ir ao banheiro com mais freqüência e ás vezes me perdia na leitura e esquecia de sair, causando alguns transtornos para mim e para o s outros. Minha tia passou a me observar e a controlar o tempo em que eu ficava no banheiro, mas depois eu me adaptei e passei a ler por etapas e isso não foi mais problema. Adorava quando ela saía, pois eu podia ficar mais tempo na minha biblioteca particular. Durante o tempo em que morei com a minha tia pude aprimorar a minha cultura através daquela revista. Além dos artigos serem interessantes e pequenos (na maioria depoimentos) havia o resumo de um livro que estava para ser lançado. Isso sem falar nas “Piadas de Casernas” e no teste de vocabulário que muito me ajudou nas tarefas escolares. Ali pude dar asas a minha paixão por ler. Não creio que nos dias atuais uma criança goste de ler essa revista. Tenho alguns exemplares em minha casa e por mais que eu tente, ainda não encontrei entre os meus netos nenhum que desses a elas a devida atenção. Compartilho esse prazer com apenas uma das filhas. A leitura parece estar em extinção. A nova geração precisa ser estimulada. Não querem “perder tempo” com leitura e a Internet está aí para desconstruir a saga do “gostar de ler”. Novos tempos, novas possibilidades de aprendizado, novos leitores e uma nova releitura do que fomos e de quem somos. Voltar no tempo? Impossível! Aprender a ler? Imprescindível! Gostar de ler? Vai da vontade da cada um. Beijos e (crianças ???) procurem fazer bom uso da Internet.






quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Dois momentos e uma vida


Aos dezessete anos, engravidei antes de me casar. Não podia deixar a gravidez evoluir. A gravidez acabaria de uma vez com o meu sonho de me tornar uma Auxiliar de Enfermagem. era um sonho pequeno, mas naquele momento era a minha única oportunidade de melhorar de vida. Minha situação era delicada e tentava de tudo para tirar o neném. Uma amiga de curso me aconselhou a tomar um vidro de um remédio muito usado pelas mulheres da época, chamado Regulador Xavier. Mas teria que ser tomado quente e de uma só vez. Assim fiz. Sabia que seria perigoso, porém no desespero em que me encontrava, não hesitei. comprei o remédio, coloquei numa panelinha para que fervesse, esperei esfriar e bebi tudo, como me indicaram. lavei a panelinha  (para que minha mãe não notasse nada de diferente na cozinha)  e deitei-me para esperar que o remédio fizesse efeito. Meu coração começou a bater acelerado ao mesmo tempo em que ia se tornando mais fraco. Fui ficando sem forças. Quis gritar e não consegui. Todos os meus músculos estavam entorpecidos. Com a respiração difícil e o corpo totalmente paralisado, eu de repente me dei conta que não estava mais na minha casa, mas deitada numa cama de hospital. Parecia ser um hospital antigo. Notei pela cor já um tanto amarelada dos azulejos que recobriam as paredes, e pelo tipo de desenho do piso. Havia dois médicos na sala em que eu estava. Não era uma enfermaria. Se parecia mais com uma sala de cirurgia, pois havia um refletor bem acima da cama onde eu estava. Eu não entendia as palavras que trocavam entre si. Mas sabia que falavam sobre mim. Eles estavam de costas para mim e às vezes um deles se virava para me observar. Eu me sentia cansada. Não sabia onde estava nem conhecia aquele lugar. Queria sentir a presença da minha mãe. Com um pouco de esforço me virei para o outro lado da cama na tentativa de me desligar um pouco da vista dos dois médicos e me assustei de verdade. Esbarrei na parede da sala onde eu dormia! Do lado esquerdo da cama estava tudo como antes. Eu estava na minha cama e na minha casa. Minha mãe costurava como de costume, em frente à janela e ouvia rádio. Bem devagar, fui virando a cabeça para o lado da cama que estava encostada a parede. Continuei a ver a sala do hospital e os médicos que me observavam e continuavam a conversar. Voltei outra vez a cabeça para o lado e minha mãe estava lá. E ela estava até cantando uma música. Alguma coisa estava errada. Se eu realmente estava na minha cama, ali do meu lado direito deveria haver uma parede e jamais uma enfermaria. E é claro que eu só poderia tirar essa dúvida se me chegasse bem para o canto da cama e me encostasse na parede. Com bastante cuidado fui me chegando para o outro lado. Os médicos continuavam a conversar e quase não olhavam para mim. Quando achei que havia espaço para sentir a parede que deveria estar ali, joguei o corpo e o susto foi enorme. A sensação de queda foi tão real que eu quase desmaiei. Olhei para baixo, e vi os pisos do chão do hospital. A cama era alta e se eu caísse com certeza iria me machucar. De repente o meu corpo esbarrou em algo sólido e frio e a cujo contato eu já estava habituada. A parede estava ali para me proteger. Me colei a parede e em pensamentos agradeci à Deus a oportunidade de ainda estar ali. Fechei os olhos e chorei em silêncio. Fiquei assim por um bom tempo. Minha mãe pensava que eu estivesse dormindo e não me incomodou. Ela nunca soube do risco que corri, nem o que eu havia feito. E eu nunca entendi direito, o que realmente aconteceu comigo naquele dia. A vida do meu bebê foi preservada e eu tive uma menina linda e saudável que apesar das dificuldades me deu muita alegria.



quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Incesto

Meu nome é Mary Jane e o que vou contar faz parte do meu passado já um tanto distante. Éramos nove pessoas. Eu e minha irmã Esther, as quatro crianças e dois rapazes que se agregaram a nossa família. Morávamos numa fazenda nos Estados Unidos. Eu estava com vinte e dois anos e Esther (minha irmã) com vinte e quatro, porém aparentávamos bem mais idade. As quatro crianças a que me referi eram nossos filhos e o pai delas era o nosso próprio pai, um homem frio e violento que também era o dono da fazenda. Ele era filho de imigrantes espanhóis e vivia na América do Norte desde criança. Era um homem moreno, alto, forte e tinha uma barriga volumosa. Falava pouco e quando se dirigia a uma de nós era sempre aos berros. Seu sorriso era sempre um mau presságio. Sabíamos que quando sorria, com certeza tinha alguma coisa em mente.
O menino mais novo Juan, tinha quase três anos e a menina mais velha, Janice já estava com doze anos. Uma das meninas, Carla, tinha seis anos e a outra, Joyce estava com sete. Eu e Esther éramos muito ligadas. O sofrimento nos unira e não fazíamos diferenças entre os nossos filhos que eram também nossos irmãos.
Nós éramos amantes do nosso pai desde a nossa adolescência. Ou melhor: desde que a nossa mãe morrera. Eu estava então com doze anos e a minha irmã com catorze. Desde então ele se apossara da nossa vida e além de nos violentar, nos proibia de sair. Não tínhamos permissão nem mesmo para ir á Igreja. Com a morte de nossa mãe e as grosserias do nosso pai as pessoas do lugar se afastaram e nós e passamos a viver completamente isoladas.

Pela força e através de ameaças ele havia nos tornado suas amantes e tanto eu como minha irmã nos tornamos reféns de seus instintos. Sem nenhuma experiência eu ajudei no parto de Esther. Ele ficou do lado de fora do quarto e gritava me dizendo tudo o que eu devia fazer.
—Sua mãe teve vocês duas sozinha em casa e eu ajudei. Sei muito bem com se tira uma criança de dentro de uma mulher!
Quando, meses depois chegou a minha vez, Esther me ajudou.
As crianças nasceram e estavam crescendo sem nenhum convívio com outras pessoas. Sofríamos toda espécie de abusos e éramos espancadas por qualquer motivo. As crianças sentiam medo dele e viviam a maior parte do tempo escondidas dentro do quarto.
Para melhor protegê-los nós duas ocupávamos o mesmo quarto no andar de cima e dormíamos todos juntos. Quando as crianças indagavam o porquê de não sairmos, eu dizia para elas que a nossa casa “era um grande armário de guardar pessoas”.

Janice estava ficando mocinha e por duas ou três vezes, eu o peguei olhando para ela com maldade. Numa dessas vezes ele chegou a segurar a mão dela entre as suas enquanto exibia o mesmo sorriso sórdido que costumava nos “ofertar” quando desejava uma de nós. Nenhum de nós o chamava de pai ou de avô. Ele preferia que o chamássemos pelo nome e era assim que nos referíamos a ele: Sr. Gonzalez.

Há tempos apareceram por aqui dois rapazes, que diziam precisar de ajuda. Eram jovens e o Sr. Gonzalez logo imaginou que talvez estivessem fugindo da polícia. Então, se aproveitando da situação dos dois, lhes ofereceu emprego em troca de casa e comida. Eles aceitaram e ajudavam no serviço. John cuidava do pasto e Neil ajudava nos trabalhos mais pesados dentro da casa. Eles eram tratados da mesma maneira que nós. Não tinham nenhuma regalia e eram constantemente humilhados. Ainda assim eles eram como cães de guarda e obedeciam cegamente ao Sr. Gonzalez. Com o tempo nos tornamos amigos. Eles acompanharam as nossas duas últimas gravidez e não fizeram nenhuma pergunta. Sabiam perfeitamente quem era o pai daquelas crianças. Neil ajudou Esther durante o parto do menino. Era prestativo e não fazia comentários sobre o que via.
Com eles por perto, nós nos sentíamos um pouco mais protegidas. Era uma proteção imaginária já que tanto eles como nós morríamos de medo do Sr. Gonzalez.
Agora que Janice estava se tornando uma mocinha, tudo estava querendo se repetir e nós não iríamos permitir. Então resolvemos fugir. Mas fugir era algo quase impensável. E para onde fugiríamos? Resolvemos nos arriscar a pedir ajuda aos rapazes. Achávamos que não aceitariam nos ajudar, já que, apesar de tudo, tinham o Sr. Gonzalez como seu protetor. Ainda assim resolvemos tentar. Eu fiquei encarregada de falar com Neil e Esther de falar com John. Para nosso espanto eles não só concordaram, como resolveram que iriam conosco. Disseram que também estavam cansados daquela vida.

Combinamos que Neil ficaria incumbido de preparar a carroça e deixar num ponto da cerca onde o acesso fosse fácil tanto para nós quanto para as crianças. Enquanto isso, John ficaria com o Sr. Gonzalez dentro da casa para distraí-lo e assim que todos estivessem na carroça ele viria ao nosso encontro.
Com o coração aos pulos arrumamos os nossos poucos pertences e os amarramos dentro de algumas colchas e lençóis. Precisávamos fazer tudo com muita discrição para não levantar nenhuma suspeita. Nos arrastávamos como sombra pela casa sempre vigiando para ver se ele (o Sr. Gonzáles) estava por perto e só quando não o víamos é que passávamos com algum volume.
Quando tudo estava pronto demos o sinal para Neil. Escolhemos partir antes do sol nascer. Minha irmã Esther e John levaram as trouxas e colocaram tudo na carroça. Eu fiquei encarregada de acalmar as crianças para impedir que elas fizessem barulho. O menino menor, Juan estava sonolento não entendia direito porque sair da cama se ainda não estava dia claro. Queria saber do sol. Fiquei com ele no colo cochichando coisas boas para que ele entendesse que precisava ficar em silêncio. Por fim minha irmã e Neil chegaram para ajudar a levar as crianças. Pulamos a janela da cozinha e saímos rápida e silenciosamente. Nos acomodamos na carroça olhando ansiosamente em direção a casa para ver se Neil já estava vindo. Eu estava apavorada. E se alguma coisa desse errado? De repente avistamos o Neil. Finalmente ele vinha ao nosso encontro. Estranhei a sua calma. Ele estava andando muito devagar e ficamos preocupados. Os cavalos estavam um pouco inquietos e eu temia que começassem a relinchar e o Sr. Gonzalez ouvisse. Neil se aproximou e disse que havia mudado de idéia. Não iria mais partir conosco. Ficamos sem entender. Porque essa decisão? E por que só agora?

Então calmamente ele nos explicou que seus planos haviam mudado devido a uma obra da natureza. Falou que há três dias o Sr. Gonzalez havia sofrido um derrame cerebral durante a noite. Neil o havia socorrido e ajudado durante esse processo, mas ele não queria que Neil nos contasse. Queria primeiro se acostumar com a idéia. Estava cego das duas vistas e com um dos lado do corpo paralizado. Prometeu a Neil que se cuidasse dele direitinho, teria como premio uma parte na fazenda quando ele morresse.

Enquanto Neil falava, nós olhávamos uns para os outros tentando entender. De repente as coisas se tornaram claras. Naqueles últimos dias, nós estávamos tão preocupados com a nossa fuga que nem notamos até agradecemos pela mudança de comportamento do Sr. Gonzalez. Ele estava sempre no quarto e chamando por Neil. Nos lembramos que há dois dias o Sr. Gonzalez não caminhava pela casa e isso foi primordial para que o nosso plano desse certo.

Depois dessa informação sobre o seu estado de saúde, continuamos a nos olhar sem querer acreditar.
Ficamos por um tempo ali parados vendo a nossa fuga se desvanecer. Se o Sr. Gonzalez estava realmente cego e
precisando de alguém para cuidar dele era sinal de que as coisas haviam mudado e que talvez ele já não oferecesse perigo para nós.
Por um momento meus olhos se encheram de lágrimas e apertei o meu filho Juan contra o peito. Janice me olhou como se indagasse: “E então? Vamos ou não vamos fugir?” Ester, apesar de ser a mais velha sempre esperava de mim a última resposta. Estava com a cabeça baixa e percebi que também chorava.
Neil compreendeu a nossa indecisão e disse que era para pensarmos bem. Se afastou dali nos desejando boa sorte fosse qual fosse a decisão que tomássemos.

O sol começava a despontar e os seus fracos raios iluminavam uma manhã diferente. Sentada na carroça e já sem nenhuma pressa eu procurava organizar as idéias.
Durante tantos anos nós sonháramos com uma fuga que seria para nós a libertação do jugo que o Sr. Gonzalez havia nos imposto e de repente essa liberdade estava ali à nossa frente. Viera até nós como um desígnio dos céus. Um misto de alegria e de tristeza tomou conta de mim. Olhei para Esther e sorri. Estava ali a nossa chance de voltarmos a ser uma família. Acho que ela entendeu o meu pensamento porque sorriu também. John nos olhava de soslaio. Talvez ainda esperasse pela ordem de partida, mas ao ver a nossa cara de contentamento, tratou de nos ajudar a descer. Sabia que íamos voltar para casa. As crianças estavam sem entender e tanto eu como Esther tentávamos passar para eles o nosso estado de espírito atual que era de alegria e total confiança no futuro. Aos pouco fomos levando nossas tralhas para dentro de casa. Com a doença do Sr. Gonzalez as crianças poderiam dali por diante, circular pela casa sem medo. O dia nos encontrou com o coração ardendo de fé na vida e em nós mesmos.
Neil nos recebeu com alegria. Ele e John nunca haviam se separado e ele estava feliz pela decisão que havíamos tomado.
John foi o primeiro a falar e o fez de uma maneira soberba:

— Felizes pelo dia de hoje e quem sabe? Feliz para todo o sempre?

Todos sorrimos. As crianças estavam pela primeira vez na vida fazendo algazarra e preenchendo a casa com suas vozes. Nossa mãe, com certeza se estivesse conosco estaria feliz.

Ganho de Causa

A imprensa estava toda à postos. O grande homem público Richard Novaes estava depondo e assim que o seu depoimento terminasse, ele sairia e todos (inclusive eu) queriam ter o privilégio de ouvir de sua boca alguma declaração, além de tirar algumas fotografias. A criança (que era o pivô daquela história) estava presente e bem protegida das vistas dos curiosos ao lado dos seus pais biológicos e certamente guardada por algum Conselheiro. Tutelar. Também estavam ali o advogado de defesa dos pais do menino e aquele era o depoimento mais importante e mais esperado daquele caso. Depois que Richard fosse ouvido o processo ganharia outro rumo. Dizia-se à boca pequena que o juiz estava propenso a lhe conceder terminantemente a guarda do menino. No entanto, havia ainda a possibilidade (mesmo que remota) da criança ser entregue de uma vez por todas aos pais.

O caso de Richard se tornara público quando o pai do menino fez uma denúncia contra o ele, o ilustre Promotor Richard Novaes. Contou que trabalhava como porteiro no edifício onde Richard residia e que o mesmo costumava puxar conversa com ele do tipo: “Tudo bem com o senhor? E a família?” Nesses momentos ele se sentindo importante em ser notado por um homem tão importante, resumia em poucas palavras a situação em casa. Falava sobre a mulher e até lhe contava sobre as pequenas desavenças que tinham de vez em quando. A mulher estava grávida e o seu temperamento mudava com muita facilidade. Quando o seu filho nasceu ele comentou com o Promotor. Fez questão de enfatizar a cor branca do filho e os cabelos loiros que o menino herdara da mãe. Por ser de origem negra e de pele escura, o fato do filho ter nascido branco era para ele algo com que falava com orgulho. Ficou surpreso quando o Promotor lhe disse que gostaria de ver o seu filho e muito mais surpreso ainda quando Richard se ofereceu para ser o padrinho da criança. Depois de conversar com a mulher, Romualdo aceitou a oferta e dali em diante o Promotor passou a dar as cartas na vida dele, na vida da sua esposa e também na vida do menino. Dizia a eles tudo o que fazer no que se referia a criança. Até mesmo o nome do menino foi ele quem escolheu. Aliás “sugeriu” que o menino deveria se chamar Ricardo, que era a versão em português de Richard. Romualdo já havia escolhido para o filho o nome de Ernesto (que era o nome do seu falecido pai) mas achou que não seria bom contrariar o Promotor e concordou. O batizado de Ricardo foi numa manhã de domingo na igreja mais chique do bairro. O padrinho chegou num carro importado e fez questão que a cerimônia se desenrolasse o mais rápido possível, pois tinha um compromisso de última hora. Apesar de tudo, a mãe do menino estava feliz. Se sentia importante por ter como “compadre” um homem como o Promotor Richard. As opiniões e orientações e interações de Richard na vida do casal se tornaram tão freqüentes que aos pouco o jogo mudou e era ele, o Promotor, quem dava as ordens: “Não! Não façam isso! Isso não é bom para o menino”, ou então: “Sim, sim, isso é bom para a criança, etc.

Richard vivia sozinho. Não tinha filhos, estava separado da esposa e apenas os criados lhe faziam companhia. Em geral seus empregados eram diaristas ou temporários. Richard não gostava de se prender a ninguém. Assim podia curtir com mais prazer a sua liberdade.

Para que o menino pudesse passar dias em sua casa o Promotor contratou uma babá. A visita do menino acontecia com freqüência e sempre com o consentimento dos pais. Quando retornava para a casa de origem o menino ia coberto de brinquedos. Além de tudo o Promotor “sutilmente” ofertava ao pai uma pequena ajuda em dinheiro: “È para que não falte nada ao Ricardo.” Para Romualdo não se sentir constrangido Richard passou a pedir que Romualdo assinasse vez por outra uma promissória com a quantia que estava doando. Procurava deixar claro que isso era apenas uma pequena formalidade e que as promissórias jamais seriam cobradas.“É para o compadre se sentir melhor...” e enfatizava: “Com dinheiro a gente não deve brincar!”

Quando o menino completou três anos o padrinho pediu ao pai para deixar a criança passar uns dias com ele numa casa de veraneio que possuía, e o casal mesmo sem saber onde ficava essa tal casa, mais uma vez concordou. No dia combinado o motorista pegou a criança cedo como de costume. Segundo ele o Promotor não pudera vir por estar numa reunião. Era uma quinta feira, véspera de um feriadão e o menino só retornaria no domingo. Os pais se despediram do menino sem saber que nunca mais veriam seu filho. No prédio, Romualdo trabalhava tranqüilo. Várias famílias haviam viajado e tudo estava na mais perfeita paz, até que um dos vizinhos ao passar por ele, perguntou: “O senhor por acaso sabe para onde o seu compadre, o Promotor Richard se mudou?” Romualdo pensou não ter ouvido direito e pediu ao vizinho que repetisse a pergunta. Só então se deu conta do peso daquela informação. Sentiu um começo de pânico, mas pensou: “Calma Romualdo. Se o Compadre se mudou com certeza vai entrar em contato com você para lhe informar. Quem sabe até já entrou em contato com Maria?”

O dia se tornou pesado e difícil de passar. Ao chegar em casa Romualdo esperou que Maria lhe desse a notícia que confirmaria a sua idéia inicial. Porém o tempo passava e nada. Maria falava sobre tudo, menos sobre a mudança do compadre. Romualdo resolveu continuar em silêncio. Não queria preocupar a mulher e estava cansado. “Quem sabe amanhã ele não entra em contato com a gente e tudo se esclarece?” Dormiu um sono inquieto com muitas voltas na cama e idas à geladeira. Estava ansioso e mal se continha em esperar o novo dia chegar. O dia chegou e a noite também sem que ele tivesse notícias do Promotor. Só restava aguardar o domingo. E Romualdo, apesar da insegurança e do mau presságio, aguardou. No domingo tomou o café da manhã ouvindo os planos da mulher em relação a chegada de Ricardo. “Sabe que ele vai vir cheio de histórias pra contar, né?” Romualdo saiu sem responder. Precisava trabalhar. No prédio alguns dos vizinhos já haviam retornado e quando passavam por ele sempre diziam algo sobre a mudança inesperada do Promotor. Romualdo sorria engasgado. Estava com um enorme nó na garganta e se esforçava para ser gentil com todos. Deixou o emprego no horário costumeiro e se dirigiu para casa a passos lentos. Se as coisas fossem do jeito que ele estava pensando, estaria enrascado. Como contar a Maria? Tentou se manter calmo e ao chegar em casa, fingindo despreocupação foi logo dizendo: “Cadê o moleque do papai?” Maria respondeu em tom apreensivo: “Pois é homem. Até agora não chegaram. Será que aconteceu alguma coisa. Algum acidente na estrada ou coisa parecida? E você? Lá no prédio ninguém falou nada?”

Romualdo procurou ajuda nos braços do sofá. Afundou a cabeça nos ombros e começou a chorar. Maria não entendia, ou melhor, não queria entender. Começou a gritar com Romualdo: “O que aconteceu com nosso filho? Fala homem pelo amor de Deus? Ele morreu? È isso que você não quer me contar? Fala!”

Maria gritava e batia em Romualdo. Estava totalmente descontrolada. Romualdo precisou usar a força para que ela lhe ouvisse. Com a voz embargada ele lhe contou sobre a mudança do compadre e a desconfiança que tinha de que não veriam mais o menino. Maria não queria ouvir. “Não! Não! Isso não era possível! Ninguém ia fazer isso com o seu menino! Ninguém!”

A partir daí a vida deles mudou radicalmente. De tanto importunar os vizinhos do Promotor no prédio em que trabalhava, e de faltar ao trabalho com desculpa de estar procurando o filho, Romualdo foi demitido. Maria por sua vez tentava obter ajuda na Associação de Moradores do bairro em que morava, porém poucos queriam ouvir sua história. Muitas vezes ao invés de consolo ela ouvia recriminações: “Quem mandou dar o filho pra rico batizar? Agora agüente. Pensa que vai se dá bem e se ferra. É bem feito!”

Romualdo sem trabalho e sem noção de direitos vagava sem rumo ora aqui, ora acolá em busca de alguém que lhe dissesse o que fazer. Um dia numa fila em busca de emprego conheceu um rapaz que era irmão de um redator de um desses jornalecos populares. O rapaz lhe orientou no sentido de procurar o Conselho Tutelar da região onde morava, mas Romualdo tinha medo. “Como procurar a justiça para falar contra um dos seus membros tão importante? E dizer que o menino havia saído de casa com o seu consentimento?”

Preferiu uma segunda opção que era contar a sua história diretamente ao redator do jornal. Caso ele se interessasse, a notícia se espalharia e talvez assim Romualdo tivesse algum retorno. Deu a Romualdo um cartão com o nome e o telefone do escritório do irmão e depois de dois dias de indecisão Romualdo resolveu procurar o mesmo. O rapaz era novo na profissão e se sensibilizou com o sofrimento de Romualdo. Sabia perfeitamente a pressão que teria de agüentar se resolvesse ajudar aquele homem e publicar sua história. No entanto, seu lado solidário falou mais alto e ele se tornou o alicerce de Romualdo na busca que fazia para descobrir o paradeiro do seu filho. A notícia logo tomou vulto e todos os jornais falavam sobre o caso que achavam escabroso. Romualdo foi tachado de louco, oportunista e caluniador. Recebeu ameaças diversas, mas insistia em contar a sua versão da história. Para piorar a situação soube que o promotor Richard Novaes estava fora do país e não se tinha notícias dele. Poucos meses depois o caso já havia caído no esquecimento. A busca de Romualdo durou cerca de dois anos. De repente tudo voltou à tona. Através de uma denúncia anônima o paradeiro do Promotor foi descoberto. Ele não estava fora do país, mas residindo numa pequena ilha no nordeste, afastado de tudo e de todos. A denúncia pôs lenha na fogueira e o caso se reacendeu. Richard foi encontrado e intimado a depor. Se dizia inocente e não se negou a prestar depoimento. Tinha (segundo dizia) em suas mãos um documento com a assinatura de Romualdo permitindo que Ricardo vivesse em companhia do padrinho por tempo indeterminado. Documento esse que foi anexado ao processo e que seria ferozmente analisado por peritos para que fosse atestada a sua autenticidade. A versão de Romualdo sobre o caso era tênue demais comparada com as provas apresentadas por Richard. A justiça foi rápida e enquanto esperava-se pelo veredicto final, a criança foi devolvida ao convívio dos pais. Infelizmente Romualdo não conseguia êxito na sua defesa. A Justiça e a mídia os tachavam (tanto ele como a esposa) de monstros oportunistas. Tudo o que dizia se voltava contra ele e sua esposa. “Como puderam permitir que o filho fosse usado em causa própria?” Richard estava radiante. De réu passara a vítima e ainda podia requerer a posse da criança. Foi então que ele entrou com uma ação onde pedia ao Juiz para adotar o menino, afinal, preenchia todos os requisitos necessários.

Enquanto isso Ricardo e os pais tentavam da melhor maneira possível conviver em harmonia. O menino, já com cinco anos e acostumado a ter tudo do bom e do melhor não se adaptou a vida que os pais levavam. Segundo ele a casa em que moravam era pequena e feia e a vida ao lado dos seus pais era ruim. Queria ter o pai Richard de volta. Enquanto a papelada rolava na justiça. Richard (por ser um grande conhecedor da lei e dos seus meandros) se armava de todos os recursos para ter o seu pedido de adoção aceito pelo Juiz. Nas declarações que dava à imprensa sempre enfatizava o sofrimento pelo qual a criança estava passando e continuava afirmando ser verdadeiro o documento de posse assinado por Romualdo. Entre provas e contra-provas o julgamento estava chegando ao fim e nós, repórteres ávidos por notícias, ali estávamos à espera de uma solução para o caso, solução essa que provavelmente estava preste a acontecer. Enfim o Promotor saiu. Usava como sempre o seu sobretudo estilo inglês e andava com passos firmes e seguros. Enquanto os repórteres se aglomeravam tentando obter o melhor ângulo para um clipe e esticavam desajeitadamente as mãos com os seus respectivos microfones para captar alguma declaração, ele se virou, deu alguns passos em direção a criança, pegou o menino pela mão e saiu em grande estilo enquanto acenava para a imprensa. Como declaração disse apenas:

—Esta era uma causa ganha!

O menino ao se sentir seguro pela mão do Promotor, abriu um largo e radiante sorriso de contentamento e seguiu ao seu lado. Assim como o seu pai quase adotivo, olhava para os repórteres com um semblante de total felicidade. Do outro lado e bem afastados estavam os pais biológicos de Ricardo acompanhados por um Conselheiro e pelo Advogado de Defesa de ambos. No olhar da mãe a dor e a desesperança de quem acaba de perder um tesouro. Com um terno e forte abraço Romualdo tentava ampará-la enquanto seguiam para o carro que deveria ser do advogado e que com certeza os levaria de volta para casa.

Tudo parecia estar terminado, no entanto o meu olhar atento havia captado algo no sorriso daquele menino que talvez tenha passado desapercebido aos meus colegas. Ele já era presa do Promotor por seu próprio consentimento e nada do que dissessem ou fizessem mudaria esse quadro.

Isto, num tempo de guerras e caos era algo para ser pensado. Até onde aquele homem influenciara aquele menino e quais seriam os seus motivos reais naquela relação? Ele era um homem quase quarentão e a pedofilia andava muito em voga. Era mais uma questão que ficaria sem resposta. O homem rico e poderoso que se apossa de uma criança inocente e “compra” o seu afeto com brinquedos e bens de consumo. É provável que se os verdadeiros pais ganhassem esta causa teriam ao seu lado, não um filho, mas um quase inimigo que na primeira oportunidade iria ao encontro daquele homem que o havia seduzido.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Eleições à parte... (e pela parte que me toca).



O Brasil envelhece a cada dia, mas pouca coisa muda de verdade nesta terra idolatrada. Desde criança ouço falar de políticos corruptos, de fraudes na previdência, outras tantas mazelas que infestam o nosso território. Mudam-se capitais, mudam-se as sedes do Governo, mudam-se os sistemas governamentais e o sistema monetário, mudam-se as leis e os seus códigos, mas nada disso consegue por fim aos desmandos dos governantes e seus subordinados que invariavelmente, colocam a população em situação de total abandono. Bem, chegamos a era “Lula” e estamos passando por uma nova fase onde o Brasil faz alarde para o seu inegável crescimento onde o pré-sal é parte importante. Os PACs e outros programas sociais tem feito a nossa sofrida população sonhar com um Brasil emergente e igualitário, mas será mesmo verdade que isto vai acontecer? Assistindo as campanhas eleitorais dos dois candidatos a presidência da república, onde a mentira, a falsidade e a hipocrisia graça por todos os lados, fica difícil acreditar numa mudança para melhor. E hoje faltando apenas dois dias para a eleição ainda encontro pessoas indecisas e desmotivadas devido o baixo nível em que a campanha foi apresentada povo. O duelo de difamações entre o candidato tucano e candidata do PT, vai ficar na história como uma das mais péssimas campanhas já presenciada pelo povo brasileiro. Entre tantas demandas e falta de decoro, fiquei com a impressão e porque não dizer a quase certeza de que a candidata do PV, Marina da Silva seria a única candidata ecologicamente correta. Fazer o quê? Votar em quem, mesmo? Na candidata protegida do presidente, ou no seu opositor? Em qual dos dois eu posso confiar? E depois das eleições quando o novo (a) presidente assumir, será que o caos da saúde acabará? E a segurança? Será que enfim vou me sentir segura? E quanto a educação de qualidade para os filhos do pobre? Será que se tornará realidade? Bem. O tempo nos dirá. E, pela parte que me toca, decidi não tomar parte. É isso. Esse ano pela primeira vez vou votar em branco e aguardar o resultado pela TV. Que a boa sorte acompanhe o nosso povo e que tenhamos um (a) presidente verdadeiramente comprometido com o Brasil! Espero que o meu desejo não se transforme em utopia, afinal o Brasil que sobrevive longe da orla também merece ser feliz.

sábado, 23 de outubro de 2010

A Briga dos Meus Pais_Quando o Racismo Começa em Casa


Tinha pouco mais de dois anos de idade. Era tarde da noite e não me recordo muito bem como foi que despertei. De repente me vi nos braços da minha mãe que corria em direção ao portão. Dentro de casa, o meu pai esbravejava e tomado de uma fúria que eu ainda não conhecia, atirava objetos como garrafas, pratos, copos e mais algumas tralhas na direção em que eu e minha mãe nos encontrávamos. Minha mãe, apesar do peso que carregava, esgueirava-se, ora daqui, ora dali (a escuridão a protegia) e ainda encontrava forças para atiçar ainda mais a raiva do meu pai, gritando:

—Joga mais para a direita! Essa não acertou! Agora passou raspando!...

Eu extremamente assustada com o que via chorava e pedia para que minha mãe me colocasse no chão. Nos meus dois anos e meio de idade, não entendia o que estava acontecendo e queria a todo o custo fugir dali. Minha mãe precisou me bater para que eu parasse de me mexer. Vi quando meu pai, tresloucado, pôs fogo numa pilha de pertences da minha mãe bem no meio da sala. O fogo cresceu rápido e eu senti mais medo ainda, pois meu pai estava dentro da casa. Fumaça e fagulhas começaram a sair por entre as telhas, e eu vi o rosto da minha mãe se transfigurar. O riso e o sarcasmo deram lugar ao desespero e ela começou a gritar desesperadamente:

—Socorro! Socorro! O homem está maluco! Está pondo fogo na casa!

O desespero no rosto da minha mãe denotava perigo. Eu me abraçava a ela e tentava esconder o rosto nos seus ombros. Não queria ver os seus olhos amedrontados. Ouvi as sirenes do carro dos bombeiros que os vizinhos haviam chamado. Vi quando eles entraram e trouxeram meu pai que estava em prantos. Aos pouco eles dominaram o incêndio e se foram. Vizinhos e curiosos se dispersaram. Eu ainda me lembro de quando entramos na casa. Os cacos e entulhos molhados e queimados jaziam na sala. Eu me dei conta de que várias fotografias, que de alguma maneira, representavam o passado de minha mãe e que antes enfeitavam o vidro da cristaleira haviam desaparecido no incêndio. Inclusive a foto do menino de cabelos loiros que a minha mãe dizia ser um dos seus filhos, já falecido. Depois fomos todos até a delegacia que por sorte ficava perto da nossa casa (aliás, passamos lá quase toda a noite). Eu dormia e acordava deitada num banco duro da delegacia, com a cabeça no colo da minha mãe. Meu pai ao que parece, prestava depoimento numa sala ao lado. O telefone preto preso à parede chamava a minha atenção e fazia com que por algumas vezes, me esquecesse do incidente. No entanto ao ouvir os gritos do delegado, e a voz surda e oprimida do meu pai, me dava conta de que o pesadelo ainda não havia terminado. O tempo passou sem que eu percebesse e logo era manhã e estávamos em casa. Só depois de alguns anos e de muitas indagações pude entender a causa daquele gesto insano do meu pai. Tudo aconteceu devido ao seu ciúme. Meu pai nunca aceitou o fato da minha mãe ter tido outro companheiro antes dele. Para piorar a situação ela trazia consigo fotos dos filhos que haviam morrido e nos momentos de discussão, gostava de atiçar o meu pai fazendo comparações entre ele que era de cor preta e o outro que era branco e Argentino e ainda se punha a reclamar da minha cor. A filha que havia puxado ao pai em tudo, até na cor! E se lamentava sempre com essas palavras:

—Meus filhos brancos Deus levou e deixou essa daí para pagar a minha língua!

Isso deixava meu pai irritado, pois minha mãe era mulata clara, quase branca e nunca disse a ele que não gostava de pretos. Só depois que eu nasci é que isso veio à tona. Sem outros argumentos ele se enfurecia e naquela noite exagerou. As brigas e discussões continuaram e agora com um agravante: não havia mais as fotos dos filhos brancos que eram o orgulho da minha mãe e ao mesmo tempo um motivo de vergonha para o meu pai. Cresci assim, discriminada dentro de casa pela minha própria mãe. O preconceito que sofri na rua doeu bem menos e me ajudou a crescer. Como águas passadas não movem moinhos, continuei minha vida e apesar das derrotas consegui ser feliz. Tive as mãos atadas pelo preconceito e pela discriminação, mas sobrevivi e hoje já não me importo quando uma ou outra pessoa tenta me diminuir por causa da minha cor, da minha idade ou da minha classe social. Sei que isso é parte da nossa cultura e tiro de letra sem me aborrecer ou me sentir ofendida. Tenho sempre em mente um provérbio que aprendi quando em criança: “Os cães ladram e caravana passa...” E vou em frente. Beijos a todos.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

De irmandade e de irmãos


Nasci em Salvador, no Estado da Bahia nos idos anos de1948. Passei os meus primeiros anos de vida me dividindo entre os bairros da Cidade Nova, Pau Miúdo, Pero Vaz e mais tarde Cosme de Farias. Cresci entre meninos e meninas que brincavam de pique (picula) pelas ruas empoeiradas e se banhavam despidos, sem culpas e sem maldade nas fontes, nos  chafarizes e bicas das redondezas muitas vezes até os onze anos de idade ou até que a puberdade apontasse. Entre deveres e obrigações se destacava o respeito e a obediência aos mais velhos, não importando a idade do mesmo. Se uma menina se casasse aos treze anos (por exemplo), já era considerada uma senhora e nós, os menores, lhe devíamos respeito e obediência tanto quanto aos velhinhos de cabeça branca.
 Naquele tempo pude conhecer e conviver com vários tipos de “irmãos”.
Havia os irmãos de sangue – filhos do mesmo pai e da mesma mãe; os irmãos da parte do pai – filhos de mães diferentes, mas com um mesmo pai; os irmãos por parte de mãe – filhos de uma mesma mãe, mas com pais diferentes; os irmãos de criação – crianças que eram criadas por famílias diferentes da sua, mas que eram tratados como filhos; os irmãos de leite (ou de aleitamento) crianças que eram amamentadas por outra mulher e que eram consideradas por elas como seus filhos e os irmãos de consideração que era uma forma de amizade muito forte entre duas crianças sem nenhum parentesco. Esses vínculos normalmente perduravam por toda a vida e muitas vezes vi pessoas idosas se referindo com carinho aos seus irmãos sendo eles de sangue ou não. O que mais achava estranho era quando uma dessas pessoas me apresentava um outro idoso como sendo o seu irmão caçula. Ficava me perguntando: Como poderia ser o caçula se já era velho? Aos dez anos fui trazida para o Rio de Janeiro e encontrei uma cidade um pouco diferente da minha terra natal. No entanto, apesar do progresso e das novidades, os costumes das pessoas eram parecidos. O respeito aos idosos  e todos os valores morais eram defendidos pela grande maioria da população. Mas os costumes foram se modificando e sem que a gente se desse conta, a “modernidade”, o “estrangeirismo” e a televisão tomou conta de tudo. Abraçou-se o que era moda em outros países num prenúncio da Globalização. O casamento aos pouco foi se modificando e a família, ou melhor: o conceito de família foi adulterado se tornando um conceito vago de união e convivência (ou será conveniência?) entre pessoas. O conceito de irmandade sofreu uma brusca mudança e hoje, irmãos e irmãs muitas vezes se transformam em estranhos - ainda que sejam irmãos de sangue! Não posso deixar de lamentar a perda desses valores. Alguns dizem que foi bom e que isso torna as pessoas mais livres, mais conscientes e mais independentes. Pela parte que me toca e por tudo que vivi até aqui, posso afirmar que antigamente era muito melhor! Saudosista? Quem? Eu? Jamais! A Internet que o diga! Sou só mais uma, na multidão de envelhecentes que assola o país tentando viver e entender a vida como ela é.

domingo, 29 de agosto de 2010

HD, HDTV, Full HD e HDMI. Êta coisinhas difíceis, sô!!!

É. Mais uma vez me vi às voltas com as mudanças tecnológicas. Digo mais uma vez, porque nesta minha vida desprovida de recursos financeiros, por mais que eu tente me atualizar sobre as maravilhas criadas pela tecnologia e que inundam as prateleiras das lojas de eletroeletrônicos, acabo sempre esbarrando em termos estranhos e tão distantes da língua pátria que terminam por confundir o meu cérebro. Haja vista que palavras como HD, HDTV e Full HD (entre outras), apesar estarem na boca dos locutores que nos bombardeiam com anúncios na televisão, não fazem parte dos dicionários convencionais e como não podia deixar de ser surgem com fonte de especulação para a grande maioria dos mortais comuns. E eu, que faço parte da “plebe rude” não poderia fugir à regra. O antigo HD (hard disc) e HDTV (high-definition television) (sistema de transmissão televisiva com uma resolução de tela significativamente superior à dos formatos tradicionais), já eram meus conhecidos e apesar de ter às mãos um instrumento magnífico, ou seja: um computador plugado e ligado á Internet, me achei no direito de especular sobre o termo HDTV. A minha especulação me levou à seguinte conclusão: sabendo que HD (Hard Disc) é um disco rígido onde se grava dados, e supondo que Full fosse o mesmo que Fast, ou seja rápido, acreditei que um aparelho de TV com Full Hd viria equipado de um gravador interno para que pudéssemos gravar programas de TV de um modo rápido sem dar direito à gravação em mídia... e pensando assim, me dirigi a uma grande lojas de eletrodoméstico em busca de um aparelho que fosse Full Hd. Queria um aparelho pequeno para por no quarto, já que o espaço é limitado. Depois de pesquisar preços em mais umas duas ou três lojas me decidi por um da Sansung de 22 polegadas. Pelo mesmo preço , numa outra loja eu compraria uma TV de 26 polegadas sem Full HD, mas eu não quis. Resultado: ao chegar em casa e ligar o aparelho não encontrei nada sobre gravação. No controle remoto não havia a tecla “Rec” e eu me desesperei!!! A vendedora havia me enganado! Aquele aparelho de TV não servia para gravar absolutamente nada!!! Não era Full HD! Queria voltar à loja e exigir da vendedora uma troca, afinal eu fora enganada.O meu bom senso começou a me alertar que alguma coisa poderia estar errada. Voltei ao manual, examinei novamente a nota fiscal e nas especificações do aparelho dizia que era mesmo Full HD. Sem me dar por vencida e ainda duvidando da vendedora, resolvi ligar para o meu primo que é expert em tudo que diz respeito a eletrônica e a informática e para a minha surpresa, fui informada sobre o real significado do termo e o que é Full HD (Full High Definition) Alta definição máxima. É a resolução máxima que uma TV de alta definição do mercado alcança. Uma TV Full HD tem 1920 pixels de resolução horizontal por 1080 linhas de resolução vertical, o que permite um melhor detalhamento da imagem. Bem, rsrsrs. Um sorriso amarelo veio a calhar. Ainda bem que não voltei à loja! Já pensaram no mico que iria pagar?

Hora da Explicação

Gostaria de pedir desculpas aos leitores que por ventura acessarem esse blog. O Lúpus tem prejudicado bastante as articulações das minhas mãos e isso tem me deixado um tanto abatida. Depois de um período de ausência, estou de volta. Pelo menos é essa a minha intenção. Obrigado pela paciência.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Marcelo Madureira_O Pacato Cidadão no Fantástico

Confesso que não sou de assistir os programas oferecidos pela nossa telinha. O Programa “Fantástico”, por exemplo, há muito deixou de fazer juz ao nome e muitas vezes passa da mediocridade ao ridículo,como é o caso do quadro apresentado pelo Casseta Marcelo Madureira nas suas viagens ao redor do mundo, onde tenta em tom jocoso e com muito mau gosto ser cômico. No último programa, por exemplo o texto e o contexto chegam às raias do absurdo e me fez lembrar da “gafe” cometida pela atriz global Maitê Proença em Portugal, quando a mesma sem a mínima reverência chega ao cúmulo de cuspir numa fonte pública em detrimento dos portugueses. Bom, voltando ao domingo “Fantástico” a analogia utilizada pelo comediante sobre o comércio da seda e o tráfico de drogas, me deixou pasma! Só para exemplificar: algumas pessoas que se encontravam em minha casa assistindo ao programa, pessoas essas que como a grande maioria dos brasileiros são “analfabetos funcionais” , acreditavam piamente em tudo que ele (Marcelo Madureira) dizia e com os olhos presos à tela assistiram cheios de pena ou comiseração a “seção de tortura” a que o mesmo foi submetido nas masmorras do Irã. Eu, tentava apartear e esclarecer as mensagens e as falas mas percebi que não estava sendo levada a sério e resolvi me calar. Em nenhum momento essas pessoas se deram conta do “humor” contido no mesmo. Sempre acreditei no poder da mídia e gosto quando alguém se utiliza da mesma para agregar conhecimento e informação ao nosso povo, tendo em vista que a TV aberta ainda é o único meio de diversão de milhares de famílias brasileiras. No entanto quando esses seres que (ao meu ver) se julgam Onipotentes Globais, se esmeram em desconstruir o pouco que se tem de cultura, é algo me deixa indignada e entediada. Sem falar que qualquer pessoa de bom senso sabe que deve ter respeito em terra alheia. Para mim são de muito mau gosto as “brincadeirinhas” do senhor Marcelo Madureira, tanto quanto o foi a da senhora Maitê em Portugal. Fica aqui o meu isolado protesto sobre a desconstrução cultural promovida e acentuada pela nossa mídia. Mas fazer o que? São coisas da vida, ou melhor: faz parte, como dizia o ex-BBB Bambam. Como ainda não aprendi a colocar links no meu blog, fica aí o endereço do Youtube para quem quiser acessar o caso Maitê. É só copiar os links e colar no seu navegador: http://www.youtube.com/watch?v=TPru2MrSTyY http://www.youtube.com/watch?v=xqj8xsgH9oI&feature=related Para ver as viagens do Pacato cidadão basta digitar no Youtube: http://www.youtube.com/results?search_query=Marcelo+Madureira+pacato+cidad%C3%A3o&aq=f Bem. Espero mais uma vez ter sido útil. Boa sorte a todos.

sábado, 22 de maio de 2010

Poeira para todo o lado! Adeus final de semana sem poeira!

Estou quase tendo um infarto!!! A casa em obras, poeira para tudo que é lado e um pedreiro que trabalha em marcha lenta... está há quatro dias colocando o piso da minha área de serviço (parede e chão) num total 22 m²??? Eu, por minha vez ansiozíssima por ver a minha máquina de lavar ocupar o lugar que lhe é devido enquanto a roupa dentro do cesto permanece inerte, apenas aumentando de volume. Hoje, sábado, 13:58 parece que o serviço não vai ser concluído... É de doer o coração. Sem contar que esse mesmo pedreiro iria colocar os cinco pisos decorados em cima da minha pia. Vou ter que abolir essa parte do trato e deixar a pia para depois. Tinha planejado dar uma saída para ver se encontrava algum palett perdido em lugar do presente (o que para mim seria um presente) ou outra coisa que me valha a pena, e nada! O marido só de olhar percebe o meu desapontamento e se culpa, por não ter se informado melhor sobre a pessoa, mas eu tento passar para ele uma tranqüilidade que estou longe de sentir, e digo (entre - dentes) que tudo está bem. São os ossos do ofício de quem se mete a fazer obras na casa onde mora... Sem ter com quem desabafar corri para o PC amigo de sempre e cá estou a me confidenciar com vocês. Adeus saída, adeus passeio, e adeus final de semana sem poeira! Coisas da vida moderna. Como diria o Bam-Bam (ex BBB): — Faz parte!!!