terça-feira, 2 de março de 2010

Momentos_1953


Naquela manhã, acordei bem. Era de natureza frágil e suscetível as doenças comuns das crianças, por isso nem sempre tinha disposição para brincar. Depois do café, sai e me pus a correr com um arco de borracha feito com um pedaço de pneu velho. Na casa da frente havia um movimento estranho. Pessoas se aglomeravam na porta num entra e sai sem fim. Eu observava afastada sem saber o que estava acontecendo. Aos pouco fui vencida pela curiosidade e me aproximei. Por entre frestas, pude ver que dentro da casa, pessoas choravam. No meio da sala havia uma mesa coberta com um pano branco que ia até o chão e em cima desta mesa havia um caixão de defunto. Eu estava acostumada a ver caixões nas lojas das funerárias quando por lá passava acompanhada dos meus pais. Achava alguns feios e outros bonitos. Esse que ali estava era roxo e feio. Eu ainda ia completar quatro anos e não estava habituada com a morte. Enquanto olhava distraidamente para dentro da casa, uma moça que estava do meu lado, me pegou pelo braço e entrando na casa disse:
—Venha, Luiza! Venha dar adeus a Dona Pombinha!
Antes que eu soubesse o que estava acontecendo, a moça me suspendeu para que eu visse o rosto da defunta. Inexplicavelmente o terror se apossou de mim e eu comecei a gritar e a me debater com tanta força que a moça se viu forçada a me soltar. Saí dali aliviada e confusa. Nunca entendi muito bem o porque daquele meu comportamento, afinal, nem cheguei a ver as flores do caixão. Me aterrorizei apenas com a proximidade do mesmo. A sensação de medo e desespero foi tão forte que eu instintivamente passei a evitar tudo que se referisse a morte.

Mãe Moderna


Mãe Moderna 


A mãe chegou ao Posto de Saúde e se dirigiu ao setor da Emergência.
Trazia no colo uma criança de poucos meses que chorava sem parar.
A Pediatra de plantão, se inquietou ao ouvir o choro da criança.
Pediu às mães que estavam na fila, para que dessem à vez para aquela mãe, e elas concordaram.
A mãe então contou o que estava acontecendo. Disse que já não sabia o que fazer. Há noites que não dormia com o choro do filho. Nem ela e nem o marido. Disse também que estava medicando a criança em casa com Dipirona e Melhoral Infantil, mas que nada estava resolvendo.

Ao examinar a criança, a doutora constatou estarrecida que a criança tinha um ferimento na moleira. O ferimento cheirava mal e ela pediu para que fosse feito um curativo no local.
As enfermeiras logo se apressaram em atendê-la.  Assim que colocaram o líquido anti-séptico, larvas em quantidade, começaram a sair da ferida.

As enfermeiras chamaram a médica que pode então ver a razão do choro insistente  daquela criança. Num exame mais minucioso, descobriu que pela profundidade da ferida, provavelmente os vermes ali alojados,deveriam estar causando lesões graves talvez até mesmo no cérebro da criança.
Imediatamente encaminhou mãe e filho para que fosse feito um ultra-sonografia craniana para que pudesse avaliar os danos causados pelo descaso daquela mãe.

As enfermeiras e todo o pessoal que prestava serviço naquele hospital, e que presenciaram ao sofrimento daquele menino de apenas quatro meses, se revoltaram e só não lincharam a mãe, porque policiais que estavam de plantão, impediram.

Ao final, todos se perguntavam:
“Como é que Deus dá filho a uma pessoa como essa?”