terça-feira, 14 de julho de 2009

A FRAGILIDADE INFANTIL DENTRO DE UM NOVO CONTEXTO DE VIDA

Até o final do século passado, criança era apenas criança. Um ser inocente, e despreparado para a vida e todos os seus perigos. Normalmente viviam cercados de adultos que invariavelmente tomavam conta de todos os seus atos feitos e efeitos, não importando se eram os pais, os tios, vizinhos ou apenas conhecidos, todos se sentiam responsáveis por esses seres considerados indefesos, para o bem de todos e felicidade geral da nação. Quando isto não acontecia coisas imprevisíveis podiam suceder, como tomarem remédios indevidos ou beberem produtos de limpeza (que ocasionalmente podiam levar ao óbito) ou se acidentarem com o uso indevido de objetos perigosos como facas, tesouras, fogo e coisas afins que também ocasionavam sérios problemas. Mas o século passado se foi e um novo tempo se fez presente trazendo com ele uma nova idéia de que os adultos estavam errados e que as crianças não eram assim tão inocentes e indefesas quanto pareciam e que mereciam e deviam ser respeitadas tanto quanto um adulto. Seus desejos e suas vontades deveriam ser satisfeitos para que traumas futuros fossem evitados, conclusão: foi dada a criança o pleno poder da decisão. E assim ela decide aonde quer ir, o que quer ou não quer comer ou vestir, se quer ou não quer isso ou aquilo e etc. Aos pais (e apenas aos pais) foi dado o poder de dialogar e tentar dissuadir a criança de fazer alguma coisa inadequada. As pessoas de fora (e isso inclui tios, padrinhos, vizinhos, parentes e conhecidos) cabe apenas observar. Concordar ou não é possível, desde que não se ouse manifestar a opinião. Li um livro de ficção científica nos anos 70 onde cientistas preocupados com a sorte dos sobreviventes ao Apocalipse (Armagedom) criaram uma ilha habitada apenas por crianças superdotadas onde o líder tinha apenas 12 anos. Eles decidiriam a sorte do mundo após 3ª guerra mundial. E essa decisão se transformou numa experiência desastrosa, pois sem a maturidade necessária, essas crianças se transformaram em verdadeiros tiranos agindo com requintes de crueldade assustadora, muito superior aos dos líderes que deflagraram a 3ª guerra. Infelizmente não me recordo o título do livro mas, assistindo ao desenrolar de acontecimentos tão chocantes onde a criança, além de algoz se tornou vítima de sua própria imaturidade transformando-se em alvo do descaso a que foi relegada me pergunto se não seria bom voltarmos ao passado. No mundo atual, se não há ordem, a quem obedecer? Se não há limites por que deixar de fazer isto ou aquilo? Tudo lhe é permitido desde que ela queira. E os pais (detentores dos poderes reais de sua proteção) se tornaram mero coadjuvantes das vontades dos filhos. Perdeu-se a hierarquia e numa mesma família todos mandam e poucos obedecem. Em função desse novo tempo estamos diante de conflitos distintos onde as crianças (e apenas elas) recebem de forma absurda os castigos que essa nova era de permissividade lhes outorgou. São “esquecidas” dentro de veículos, caem, se jogam ou são atiradas das janelas dos apartamentos, são abusadas ou violentadas por adultos sem escrúpulos e por mais que o ECA e todas as cartilhas sobre direitos humanos preguem o direito da criança de ser criança, isto não é cumprido ou olhado com seriedade por quem de direito, pois continuam a bombardear as crianças com informações sobre assuntos que ela ainda não tem como digerir e o caos se instala na casa de qualquer família onde uma menina de cinco ou seis anos pede ao pai para “colocar uma sementinha” dentro da sua genitália “como ele faz com a mamãe”. Ou onde uma outra criança depois de assistir a uma cena “quente” na TV pede ao porteiro do prédio para fazer com ela o que o mocinho da TV fez com a mocinha. Outra criança resolve praticar sexo com o menino ou a menina mais próxima, não importando se é irmão, irmã ou filho do vizinho. Uma menina resolve sair do banheiro despida, apenas para observar se o pai tem ereção ao vê-la... enfim, em termos de sexo elas estão providas de informações que eu, aos 16 anos ainda não tinha. Quanto a pular da janela, qual é a idéia real que uma criança faz disso? O que significa “morrer” para ela? Na maioria das vezes castigar a mãe ou o pai por ter se recusado a atender a algum dos seus pedidos. Ela sabe que o pai ou a mãe irá chorar e isso é o que importa. Temos finalmente um mundo moderno atual e globalizado onde não há lugar para a inocência. Todos temos pressa. Uma pressa insana e indevida de chegar a nenhum lugar e as nossas crianças estão pagando um preço alto por isso. Meninos sendo transformados em travestis, meninas se prostituindo e tendo como prática normal, coisas que muitas prostitutas de carteirinha não faziam, crianças sendo geradas por outras crianças, meninas dando à luz antes mesmo de atingir a puberdade... coisas absurdas incompreensíveis para quem como eu nasceu no século passado e pode desfrutar do carinho e proteção dos seus pais e de todos os mais velhos da rua e da comunidade. De quem nasceu num tempo onde não se dizia palavrão perto de uma criança, por se acreditar que ao lado de todas eles existia um Anjo da Guarda pronto para protege-la, figura esta representada de várias formas e estampada em quadros à beira do berço e até nas varandas de algumas casas. Religião á parte, acho que o respeito a criança é devido e eficaz, mas o respeito humano e não o respeito as suas tenras vontades ainda desabrochando. O respeito ao seu (repito) direito de ser criança e acreditar em Cegonhas e Papai Noel. Aliás, retiraram essas crenças do universo dos pequeninos, mas permitiram que as Nárnia e os Harry Porter da vida povoassem o seu mundo. Onde está a coerência desses atos? A quem reclamar? O tempo irá nos contar em páginas chocantes sobre a fragilidade das crianças do século 21 num mundo globalizado e omisso.